sábado, 1 de agosto de 2009

Por aqui chove e é boa a chuva depois do Sol, a chuva molhando ao de leve a terra meio ressequida das sardinheiras, a chuva pela calçada, lavando as ruas, dá uma sensação de aconchego, de proximidade às coisas. Nestas manhãs, dou por mim perdida em pensamentos, tranquila, em paz, gozo do tempo livre, aplico-o fazendo aquilo que gosto, ler, escrever, ver filmes. Gosto desta sensação da cidade semi-deserta, dos cinemas vazios, de prolongar os passos num certo silêncio, um silêncio deixado à solta pela debandada das famílias para perto do mar, a cidade sacode-se da poeira e do peso, liberta-se e disponibiliza-se para ser vista, tocada e acarinhada. A minha cidade, Lisboa e o mar, o sítio onde cresci, amadureci, ganhei asas. Não sei o que é viver longe destas coisas que amo, sei que muitos o fizeram por necessidade, porque este país lhes fugiu das mãos e lhes pareceu virar costas, sei que o fizeram com tristeza e depois voltaram, volta-se sempre ao local de infância, carregamo-lo para longe, mesmo sem querer e onde estivermos somos também e sobretudo esses locais, os sentimentos vividos não estão separados, não são apenas nossos, também estão nas ruas, esquinas, cafés, encontramo-los quando os julgávamos perdidos assim como eles nos encontram, reconhecemo-nos. Somos ambos, pessoas e cidades, feitos dessa matéria porosa e volitiva, passado e futuro.
imagem de: http://cachimbodemagritte.blogspot.com/

4 comentários:

~pi disse...

... e presente,

pre sen te!

[ será esse o eléctrico

dos

prazeres? :)




beijo





~

via disse...

~pi: este é o da Graça, mas dos prazeres também, bjo

Clara disse...

Olá e antes de mais, obrigada pela visita!
Este texto parece que foi feito para mim. Encaixa-se como uma luva.
Saí dessa minha Lisboa que tanto amo e que me viu crescer, para tentar a sorte em Angola, país que me viu nascer...
Bjks

via disse...

Clara: e Angola? como é? não tem eléctricos mas terá outros fascínios...bem vinda!