domingo, 11 de outubro de 2009

divagações

Cartier-Bresson


qual a relação entre a nossa experiência e a expectativa que acalentamos de felicidade? porque será o que vivemos pouco mesmo que seja equiparável ao que sonhámos? ser feliz depende ou não da quantidade de experiências que julgamos felizes? será que a felicidade é a soma de experiências felizes? e o que é uma experiência feliz? poderá uma experiência ser em si feliz sem que aquele que a viva a sinta como tal?


olho a luz de Outono, este azul ácido que se espalha do céu para as árvores e para os contornos dos corpos, sinto-me progressivamente alheada, sem lugar definido na soma de acções que nos relacionam com o colectivo, vivo na proximidade das sensações, como um lobo a farejar, o restolho do calor dos corpos, o cheiro, o som. dias há que os filhos dos outros me dão uma nostalgia tremenda de não ter os meus, e dias há também que sorvo o ar absoluto de não ter amarras, de ser livre. libertar-se progressivamente desses padrões, dos padrões natura, contra/natura, socialmente aceite, genuinamente respeitável, obedecer ao impulso, não lamentar.possuir o que possuímos, a lembrança, a capacidade ilimitada de se auto-transcender. se ficar louca chamarão os cães, se não ficar, acorrentar-me-á a lucidez da morte. não acredito na maioria das pessoas, acredito na linguagem do corpo. fatalmente. se hoje é de noite não é por acaso, será noite da descrença e porque não?

3 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Tocantes divagações :)

Eu diria que o Outono me obriga a aumentar a capacidade de aceitar o como sou, o como tudo é... sem o conseguir totalmente. Mas, enfim... resta-nos a linguagem do corpo, dos corpos que se entrecruzam todos os dias. Lentamente e sem certezas, lá se pode ir descobrindo um caminho, e até mesmo recusar todos os que se encontram.

Ai, ai :)) a filosofia é uma senhora muito malandra e desassossegada!

Beijinhos

g disse...

A seguir à noite virá o dia, e logo a seguir nova noite, e às vezes já não sabemos se é a noite que fica entre os dias, se são os dias que ficam entre as noites...

via disse...

Ana Paula: a filosofia é como a atmosfera, nem damos por ela mas respiramo-la, nada a fazer.bjo

g:pois o que dizes é mesmo assim, volitivo, saturno, quem o intui, sabe disso muito bem.