
sexta-feira, 29 de junho de 2012
sem título

segunda-feira, 25 de junho de 2012
coração!
O
coração é um órgão de fogo. Queima e arde. Tudo o que se faz com o coração
agita-se tremulamente no ar, escoiceia, gasta o oxigénio em volta, intoxica,
deixa um torpor nos membros, uma agitação contínua, um desenrolar de parábolas
na cabeça, momentos e enxames de sensações contrárias. Há que voltar a colocar
nele a ordem e a resistência começa: como direcionar o fogo se os limites se
diluem? Se quando os colocamos logo sentimos arder noutro lado? Não nos
inclinamos naturalmente para a destruição. Não. É para a natureza que falamos,
e ela reenvia-nos o eco de uma voz secreta, de um desígnio. Se ardemos é para
depurar, diz-nos a natureza, se custa, é porque também o álcool sobre a ferida
custa mas sara. De novo a resistência, esse álcool abre outras feridas, se
esta sara outra sangra. Inclinamo-nos para o tempo, nele descansamos a cabeça. Que venha o tempo diz a natureza, e tudo volta ao princípio e não há tempo mas
uma irrupção de fogos que não cessam. Coração, coração se tu soubesses, se tu
pudesses resolver-te a fiar, a costurar, ou se tu soubesses cantar em vez de
gritar, talvez o teu canto pudesse seduzir as pedras, talvez o teu canto embalasse
o medo, talvez o teu canto restituísse ao fogo o seu perdido dom de
encantamento.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Música das esferas
Pitágoras afirmava que estrelas e planetas eram pequenos orifícios na abóboda do universo. Ao moverem-se, como nos furos das flautas, iam tapando e destapando orifícios, e daí a origem da música. Poderíamos compreender matematicamente o seu som e e até imaginá-lo. Kepler, místico e astrónomo, 2000 anos depois, chegou a arquitectar a partitura dos sons dos planetas nas suas elípticas. Hoje a NASA confirma, há mesmo música no universo. ouça-se Urano:
http://www.youtube.com/embed/80Ngl2RY8sA"
Mais, aqui: http://youtu.be/MWDB_1Ajq20
quarta-feira, 13 de junho de 2012
PROMETHEUS
Pontos prévios: discutir os oito euros do bilhete e o aborrecimento de usar óculos durante duas horas;congratular-me do Ridley Scott ter escolhido a Noomi Rapace para o papel da doutora Shaw: a protagonista; extasiar-me perante a força de determinadas sequências homem, fibra, músculo, orgânico, espiritual, máquina, inorgânico.
O que está em causa em Prometheus é a origem da vida e do mal, como se ambos fossem indissociáveis. A vida, não é o resultado de uma análise ao microscópio, não é uma coisa que se disseca, uma soma de partes, embora também seja, considerá-la como tal, apenas, parece poder conduzir-nos ao princípio da sua destruição. O orgânico disforme da besta, ainda me faz náuseas, e o universo à nossa escala é um sonho incompreensível. PODEROSO!!
sonho no cabeleireiro
Eram
10 h da manhã e tinha sono. Adormeci para ali sentada em frente ao espelho
gigantesco tentando fugir ao olhar que perscrutava as minhas rugas como um
penhasco fundo. Adormeci e não dei conta do tempo. Ai adormecer para
sempre! Não, acordei naquele cheiro de ácido misturado com cola, enquanto a rapariga
negra punha papelotes no silêncio do seu profissionalismo, papelote de prata,
um, dois, três, quarenta, cinquenta. Adormeci outra vez, sonhei que estava na
tenda de um Marajá e que tu, minha amiga, fazias uma massagem nas minhas costas
depois de teres assassinado o Marajá , mas, o mais
natural, era ter um cigarro na boca e adormecer no sonho; o cigarro
em lenta combustão ateara fogo à tenda do Marajá, mas agora de papelotes de
prata no cabeleireiro não podia fumar. Não liguei de como tinhas assassinado o marajá, o facto era adquirido. Quis dormir, de novo, e o fumo entrou-me
lento nos pulmões e enroscou-se em ondas na aorta que me dá vida e me tira vida,
e quando às 11h estava pronta para cortar o cabelo e o secar com o
secador, já tinha secado a fonte , qualquer fonte, e abandonada no primeiro andar do cabeleireiro
deixara-me ir com o fumo ou o esquecimento enquanto os dias passaram e ninguém mais se
lembrou de mim.
fotografia aneta bartos
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