domingo, 23 de junho de 2013

Herberto

Há unanimidade crítica em relação ao Herberto Helder. Os seus livros esgotam antes de saírem para as livrarias, obras raras valiosíssimas pois o poeta exige escassez editorial, uma selecção dos eleitos, poucos iluminados terão a hipótese de ler o mestre, só mesmo os mais atentos . A imagem, não duvido que corresponda a um anseio legítimo e sentido, foi meticulosamente tecida pelos meios de comunicação social, que Herberto odeia, e que adoram o seu mistério, a sua invisibilidade física como a de um deus, que não está em parte alguma e está em todo o lado, como um acutilante espírito nas insondáveis atmosferas longínquas do génio retido pela infame banalização do artista, alheio aos prémios do vil metal, enfim...tenho nas mãos "Ofício cantante" alguma da poesia reunida, não ouço cantar as entranhas, nem o coração, estes poemas não me tocam, não sinto por nenhum deles um arrepiozinho fino e inquietante, como sinto por alguns versos do AlBerto ou do Carlos Oliveira ou do Pessoa, ou do O'Neill, do Yets, da Dickinson ou da Peri Rossi, só para enumerar alguns dos meus poetas de eleição. Não vejo como se pode considerar um grande poeta se não sentirmos por ele essa paixão. Não vejo como.Outros o sentirão, presumo, quantos farão a diferença?

10 comentários:

cs disse...

gosto tanto dele. Acho mesmo que é dos últimos portugueses que usou pensar. A sua escassez literárias não acredito que seja uma compaginaçao entre o marketing e uma editora ávida de enriquecer com Helder. Se assim fosse o número de exemplares não era tão escasso.
"OS passoS em volta" de Helder , já velhinho (comprado em 1985) no tempo e no uso e que redescobri nos meus caixotes faz pouco tempo, fazem-me sempre bem.
Eu, por acaso, gosto de Helder, como de Ruy Belo e de todos os que referiu.
Não acha este texto uma pérola? http://5sentidos-cs.blogspot.pt/2011/08/um-livro-de-1963.html

cs disse...

ousou*

ana p disse...

E crepitam-me as pontas dos dedos ao supor-te no escuro.

Queimavas-me junto às unhas.

E a queimadura subia por antebraço, braço,

ao coração sacudido. Eu - perfumado

e queimado por dentro: um laço feito de odor

transposto, ar fosforescendo, uma árvore

banhada

nocturnamente. Tudo em mim trazido

súbito

para o meio.



Herberto Helder

Eu sou dos que gostam :)

via disse...

cs: Não consegui ver nada no endereço que colocaste.os passos em volta há quantos anos...

Magnólia, esse é magnífico, bem escolhido, vocês fazem-me ponderar e quiça mudar de opinião.

cs disse...

http://5sentidos-cs.blogspot.pt/2011/08/um-livro-de-1963-que-eu-so-li-agora.html


Assim penso que dá .

cs disse...

Tenho a mania de colocar a data nos livros quando os compro. Tenho esta livro desde 1985. Faz uns 3 anos reli.o e que bem que me soube.

cs disse...

Vou levar este poema para o fb.

S disse...

Como a cs também gosto muito. Julgo que não foi um amor imediato, aprendi a gostar aos poucos. Os passos em volta foi também o primeiro livro dele que adquiri.

cs disse...

Via
vou aproveitar a sua cx de comentários para felicitar a Magnólia pelo "Primeiramente". Por lá não existe cx de comentários, nem precisa, naturalemente. Que comentário fazer quando as fusões são perfeitas.

Gosto muito. Parabéns.

Desculpe o abuso Via :)

via disse...

s: Gostei quando o li mas agora nem por isso, mas já percebi que estou em minoria,mas...logo se vê...

cs: ´também bato palmas entusiásticas à Primareiramente e ao poema que me enviou, estou quase a render-me ao herberto.