sexta-feira, 28 de junho de 2013

talvez ensinar a sonhar

 

Não alinho em extremismos, em actos violentos de consequências imprevisíveis e irremediáveis, parte do mal do mundo deve-se a extremismos. A sensação de que se está encurralado e não há saída pode empurrar-nos para actos extremistas, parece ser a única saída para quem está desesperado. Não me lembro de nada parecido me ter algum dia acontecido. Quando se fecha uma porta descubro sempre uma janela e quando se fecha a janela descubro uma escada e se a escada leva a uma parede sento-me a pensar e a imaginação tem barro suficiente para, mesmo no escuro, moldar um sol, uns pássaros, uma frase absoluta, um sorriso inesperado. Renasce aí, como do nada, um inebriamento, um deslizamento do betão e uma outra planície se abre. Acredito haver vidas difíceis que conduzam ao desespero e daí a actos extremistas, mas não acredito que seja uma relação de causa/efeito, tão pouco uma relação directa. Podemos imaginar muitas vidas fáceis (isto é, vidas onde está assegurado o que é básico para uma boa vida, amigos, dinheiro, amor) com desespero. A dificuldade da vida não conduz necessariamente ao desespero, há uma certa disposição enraizada porventura numa certa forma de olhar para o que nos acontece, forma essa que negligencia um aspecto importante, o sonho. Sonhar não é um verbo para fracos e escapistas, ou uma categoria parva de auto-convencimento por quimeras, mas uma forma lúcida de compreender os saltos e a diversidade no modo de ver. Daí que não sei se podemos ensinar a sonhar, mas é sem dúvida importante tentar. A memória e a imaginação são instrumentos mas o resto é arte.

2 comentários:

CCF disse...

Eis o mais importante mas é difícil ensinar alguém a fazê-lo.
Conheço e vivo com pessoas sem sonhos, custa-me percebê-las, é talvez o elemento que mais me distancia mesmo quando quero ficar próxima.
~CC~

via disse...

CCF: As pessoas sem sonhos são comuns e agarram-se às canelas, são de enxotar ou ter pena. depende.