quarta-feira, 27 de novembro de 2013

No supermercado


Estamos assim, sem pensar, entre compras, metidos dentro de armazéns atafulhados de coisas grandes e pequenas redondas e pontiagudas, com uma luz plana sem sombra, e um som indefinido que apaga a vontade de dizer, repetimos mentalmente: 3 bifes de peru, por favor. Atum Tenório a 2.19 Euros. Cola UHU em embalagens de dois pelo preço de uma. Entramos numa estante e sentamo-nos ao lado das caixas das Barbies, podemos imaginar que num outro corredor, o dos chocolates, há tartarugas gigantes em cima umas das outras a tentar chegar à antena que de repente se vê no céu escurecido, e o rapaz da caixa tem as calças com um vinco perfeito e lê Proust. dizemos-lhe: Rápido, pois vemos aproximar-se uma onda gigante vinda directamente do corredor do vinho francês mas é demasiado tarde, deixamo-nos levar na corrente e aportamos a uma ilha, ele sem o vinco das calças e eu com o Proust no soutien, deito a mão a uma garrafita que bóia incauta. Compras no saco de plástico e quando saio, viro-me para trás, comando em riste,  antes de mudar de canal, abro as portas do veículo, do meu veículo, e dou o salto.

Pintura de Rodolfo Amoedo

Nenhum comentário: