domingo, 9 de fevereiro de 2014

tempestade



 
Porque será que as tempestades têm nome de pessoa se as descrevemos à régua e ao esquadro? Ondulação de 11 metros, ventos de 130Km, leito dos rios cresce 6 metros, população e orla marítima em estado de alerta. Lembro os quadros do Turner, as vagas, os relâmpagos e os homens indefesos e arrepio-me desta forma de transmitir a informação tão alarmista e  cinzenta. Por detrás da pretendida ciência dos números há o resgatar da identidade da coisa natural, a neutralidade da descrição é um cavalo cego, não há neutralidade, há só pretensão e uniformidade. Como se os números nos dessem a ilusão de controlo e de conhecimento. Nada. Os números não são sinónimo de domínio coisa nenhuma, são só sinal de falta de ideias, de falta de poesia, de falta de grandiosidade na descrição. Esta omnipresença dos números é tão ilusória como manipuladora. Eis a tempestade: os ventos assobiam nas frinchas mal vedadas das janelas, o recolhimento da noite transformou a tempestade em som, arabescos de árvores a bater contra os vidros. E nós reinantes de chaves à cinta encolhemo-nos no sofá, deixamos os olhos crescer para o que a noite não deixa ver. Stop

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