É no Sábado, a não perder."Pegue o vestido estampado, guarde para um carnaval" bem, adoro este tema...
É no Sábado, a não perder."Pegue o vestido estampado, guarde para um carnaval" bem, adoro este tema...
Comecei um atelier de escrita criativa e ilustração a meias com uma colega de artes. Planeámos uma viagem pelas histórias tradicionais e na passada quinta feira foi a vez da Rapunzel, como todas estas histórias cuja origem é provavelmente oral, as versões são diferentes umas das outras mas há certos acontecimentos que se mantêm e, pela sua persistência podemos inferir que são mesmo os traços essenciais da história. Em todos as versões se mantém o modo como Rapunzel vai parar às mãos da Bruxa. Tudo começa com a esterilidade dos pais da futura Rapunzel, anseiam muito um filho, até que um dia por milagre isso acontece, mas em vez de ficarem sossegados e felizes, a futura mãe deseja desmesuradamente as alfaces, espinafres ou raponzos (consoante a versão)do quintal do lado. À beira da morte por inanição consegue comover o marido que salta o muro durante a noite e rouba os ditos legumes. Mas a mulher não fica satisfeita,a obsessão é cada vez maior e o crime do futuro pai irá continuar, até ser apanhado pela bruxa, proprietária do quintal. Incapaz de lhe dar um murro ou de negociar, aceita as suas condições e dá-lhe a filha recém-nascida em troca das alfaces roubadas.A facilidade com que cede às exigências da bruxa sem se bater, são inexplicáveis. Passemos à frente, anos mais tarde Rapunzel, encarcerada numa torre, infeliz e solitária, encontra um princípe, e parte com ele (em muitas versões fica imediatamente grávida quando o conhece...) é então proposto ao grupo que, a partir da frase :E RAPUNZEL GANHOU ASAS continue a história e oh espanto! quais as versões propostas?Pois são as seguintes: Rapunzel tinha os filhos, enlaçava-os juntamente com o marido, na sua longa trança (ficando com um peso brutal) e ia à procura dos pais para lhes perdoar. Dos pais que a tinham trocado por um punhado de alfaces ou espinafres, legumes enfim. Surpreendeu-me esta resposta, tinha outra expectativa, contava com mais ousadia por parte dos adolescentes. Uma loucurazita, não?
Morreu José Saramago, morreu o homem mas a sua obra agora talvez seja apreciada de outro modo. A obra de um escritor, os livros escritos e por nós lidos, ganham mais autonomia depois da morte do seu autor, apreciarei melhor a sua obra depois da sua morte, sinto já que relê-lo é o meu tributo ao escritor que admirava pela coragem e pela lucidez. A familiaridade com um autor que, de algum modo, é um amigo, como nós, capaz das maiores fragilidades, parvoíces e grandezas, aproxima a escrita de uma certa vulgaridade, retira-lhe a distanciação e a neutralidade necessárias para uma apreciação livre. Um autor engrandecido por prémios e pela divulgação impar da língua portuguesa, pressiona a leitura, distorce-a, talvez ao lê-lo queiramos ver tudo aquilo que o tornou grande,presos de um certo ressentimento face a outros escritores amados que não obtiveram nenhum desses reconhecimentos. Os criadores laureados são, de algum modo, homens do sistema e, como tal, afastados do mito do escritor maldito ou incompreendido, esse pormenor/ garantia da verdadeira obra de arte estar sempre além do seu tempo, a morte do autor reconcilia-nos com a sua obra, afasta o ressentimento associado ao homem. Voltar a ler Saramago sem essa pressão é libertador e obrigatório.
Alfama aprumou-se, das casas velhas a cair, das ruas sujas a cheirar a peixe e das tascas sombrias há apenas a lembrança. pintam-se as casas para o turista, as tascas viram restaurantes com esplanada e até se aprende umas coisitas de inglês. como o turista ama o pitoresco, um dia destes, em prol da causa, recriam-se as ruas nos anos 50 com varinas de canasta à cabeça, pregões, vizinhas a discutir de janela a janela, fado ao desafio pela noite fora. Compreende-se o saudosismo, as cidades estão cada vez mais impessoais, Hi-tech, marasmo de vidro e mobliário clean, gente a passar cheia de pressa. Se houvesse um beco parado no tempo onde pudessemos ver carvoarias e homens sentados num banquinho a jogar às cartas, melhor, para apaziguar a consciência, afinal ainda há gente, pensaríamos, e tudo voltaria à normalidade. O saudosismo responde ao medo do desconhecido, não sabemos como irá ser, agora que tudo se modificou, ansiamos pelo que foi, aí sim estaríamos seguros. Os portugueses dão-se bem com este sentimento, a saudade, há quem diga que inventámos a palavra, não me lembro de saudade em francês, ou mesmo a "soledad" espanhola, não tem o mesmo significado.
talvez seja "bota de elástico" (onde terá vindo o raio desta expressão idiomática? ) mas esta moda modernaça de mostrar o corpinho mais as partes íntimas a toda a toda a hora e em qualquer situação causa-me uma certa náusea, aquela de que falava o Sartre, quando sentado no café, com uma bica caneta e papel, imagino, se punha a olhar em volta e via a opacidade das vestes e das expressões. diria que se vivesse no Brasil, talvez não lhe desse para escrever sobre essa espécie de tédio antecipado que deriva da súbita emergência de uma falta de sentido, talvez que para os países quentes faça sentido esse despe despe já com umas tantas bejecas e caipiras, uma boa música uma disposição para seguir embriagado em desejos, mas aqui no país de Viriato, não sei, não cola bem, parece exibição de boneco de feira, tipo olha para mim, que despudorado sou, que me estou lixando pra roupa, é uma montra de vaidades de ginásio ou de banhas de hamburguer ,coca cola e tardes mornas entre canais Zon a ver os Losts deste e doutro mundo. temos uma rigidez de costumes, ou se quiserem, uma tradição que não se dá bem com isto de andar a mostrar o rego do rabo, ou o tronco nu, no restaurante ou nas aulas ou no centro comercial, seja onde for. serei "bota de elástico" mas gosto de decoro, de um certo pudor, o pudor é infinitamente mais erótico que a barriga ao léu. dirão que o pudor é um sentimento íntimo que nada tem a ver com a forma como vestimos e concordarei, se nos vestirmos, claro, continuarei no entanto a pensar que o corpo é a nossa intimidade, expô-lo demasiado é fazer da intimidade um "out door" com luzinhas a acender e a apagar.fica tudo no mesmo plano, há só o corpo na sua imediatez, para ser visto, sem que o olhar, possa seguir desocultando-o, entrevendo ou imaginando, quando tudo se dá ao olhar, ficamos cegos, cansados de ver.há uma certa confusão modernaça entre a exaltação do corpo e a libertação sexual, a sexualidade é da intimidade ou do privado, a exaltação do corpo é público, confundi-los molesta as duas esferas, enfraquece-as ou mesmo nadifica-as, tira a graça toda, o mistério de haver corpos por dentro de coisas que os protegem, roupas.
É HORA DE DEFENDER O QUE É NOSSO E GARANTIR (NÃO SEI COMO) O SEU VALOR
IO SONO l'AMORE "eu sou o amor" é um título capaz de nos levar ao cinema ou seja onde for que o possamos encontrar, aqui ou noutro lugar qualquer, apesar de falado e visto o amor continua a ser o imaginado, mais que qualquer outro, o imaginado. e se nenhuma paisagem geográfica o confina, nenhum obstáculo o afasta é por isso mesmo por essa sua qualidade que o mantém audaz menino das tropelias dos sonhos, menino capaz de transgredir, fazer em cacos tanta muralha pacientemente construída. eu vi, sou testemunha, eu e vários milhões que se multiplicam pelo tempo e dele nos descrevem o fulgor, se não fossem elas, as imagens e elas as palavras seríamos nós capazes de o identificar? sim claro, de algum modo quem o nega, por momentos ser seu dono. o embriagado das sensações, dando-lhe a mão, o corpo, não? sim, claro, e será que sem a literatura e o cinema, que são as artes do amor, poderíamos continuar a sonhá-lo? é tão óbvio que os sonhos não se podem viver, ou será o contrário é na vida que o sabor do amor nos confunde, sonho e vida se bebem mutua, indistintamente. mutua indistintamente. é vero. a ver.