gosto muito de pessoas que se entusiasmam e falam e riem e se dão a conversa como se mordem as cerejas, sem articular coisas bem pensadas, só ao sabor do momento e gosto porque são contagiantes, porque nos fazem sentir bem. a minha mãe, por exemplo sempre foi contida, muito opiniosa e ciosa de ser tomada verdadeiramente a sério, gostava que fosse mais desprendida, mas o que me une à minha mãe, aliás o que nos une às mães, pais irmãos, sobrinhos, não são os traços de carácter contagiantes, não é a mais valia comunicativa mas o factor essencial e absolutamente superior, quando comparado com outros, de estarem presentes, de estarem lá, de terem estado lá, a presença e a constância da presença são os seus atributos maiores, são afinal e pensando razoavelmente bem, os atributos maiores de qualquer união. Não a escolhemos e, por isso mesmo, por nos ser dada, cada um com as suas características mais fracas aos nossos olhos, torna-se mais querido, porque são nossos enfim e por eles velamos sobretudo nas suas fraquezas.Quando vivemos com uma pessoa, parece que o traço que nos une é igualmente a presença mas aí há uma escolha, e quando há uma escolha há uma série de expectativas que pensamos realizar, o outro não é nosso, não o sentimos enquanto tal porquanto a escolha é um acto de vontade que cessa quando cessarem as expectativas que a motivaram. A não ser que a escolha seja ontológica, isto é, na ordem de uma vontade que não escolhe o outro como meio para realizar algo mas como um fim em si.