segunda-feira, 25 de junho de 2012

coração!


O coração é um órgão de fogo. Queima e arde. Tudo o que se faz com o coração agita-se tremulamente no ar, escoiceia, gasta o oxigénio em volta, intoxica, deixa um torpor nos membros, uma agitação contínua, um desenrolar de parábolas na cabeça, momentos e enxames de sensações contrárias. Há que voltar a colocar nele a ordem e a resistência começa: como direcionar o fogo se os limites se diluem? Se quando os colocamos logo sentimos arder noutro lado? Não nos inclinamos naturalmente para a destruição. Não. É para a natureza que falamos, e ela reenvia-nos o eco de uma voz secreta, de um desígnio. Se ardemos é para depurar, diz-nos a natureza, se custa, é porque também o álcool sobre a ferida custa mas sara. De novo a resistência, esse álcool abre outras feridas, se esta sara outra sangra. Inclinamo-nos para o tempo, nele descansamos a cabeça. Que venha o tempo diz a natureza, e tudo volta ao princípio e não há tempo mas uma irrupção de fogos que não cessam. Coração, coração se tu soubesses, se tu pudesses resolver-te a fiar, a costurar, ou se tu soubesses cantar em vez de gritar, talvez o teu canto pudesse seduzir as pedras, talvez o teu canto embalasse o medo, talvez o teu canto restituísse ao fogo o seu perdido dom de encantamento.

5 comentários:

R. disse...

Caramba, via, como sempre reitero a minha convicção: talvez o teu canto devesse ecoar mais longe...

Um abraço.

L.S. disse...

Palavras de quem está mais além...
Ob.
Ab.

S disse...

belo e triste.

via disse...

R: e ecoa, aí em Braga, são 400 Km! Abraço e obrigada

LS: Mais além, aqui à distância de um movimento do dedo.

sónia: ´sim, acho que sim.

R. disse...

:)