quarta-feira, 13 de junho de 2012

sonho no cabeleireiro

Eram 10 h da manhã e tinha sono. Adormeci para ali sentada em frente ao espelho gigantesco tentando fugir ao olhar que perscrutava as minhas rugas como um penhasco fundo. Adormeci e não dei conta do tempo. Ai adormecer para sempre! Não, acordei naquele cheiro de ácido misturado com cola, enquanto a rapariga negra punha papelotes no silêncio do seu profissionalismo, papelote de prata, um, dois, três, quarenta, cinquenta. Adormeci outra vez, sonhei que estava na tenda de um Marajá e que tu, minha amiga, fazias uma massagem nas minhas costas depois de teres assassinado o Marajá , mas, o mais natural, era ter um cigarro na boca e adormecer no sonho; o cigarro em lenta combustão ateara fogo à tenda do Marajá, mas agora  de papelotes de prata no cabeleireiro não podia fumar. Não liguei de como tinhas assassinado o marajá, o facto era adquirido. Quis dormir, de novo, e o fumo entrou-me lento nos pulmões e enroscou-se em ondas na aorta que me dá vida e me tira vida, e quando às 11h estava pronta para cortar o cabelo e o secar com o secador, já tinha secado a fonte , qualquer fonte, e abandonada no primeiro andar do cabeleireiro deixara-me ir com o fumo ou o esquecimento enquanto os dias passaram e ninguém mais se lembrou de mim.
fotografia aneta bartos

3 comentários:

jp disse...

Bela história. Senti-me tal e qual, de rugas e papelotes.

Olha , por favor, pergunta lá como foi que ela assassinou o Marajá!

bjs

R. disse...

Parece-me que foi um sonho "acordado", tão coerente que aposto que o podias ter imaginado ;)

via disse...

jp: Sonhei, posso responder, à facada. É livre a imaginação. não completamente, não há nada completamente livre. cabeleireiros! uf!!

R: os sonhos e a sua transposição em história têm sempre essa metamorfose, acabamos por lhe dar uma forma mais ou menos lógica, o resto esquecemos!