segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Detachment

 
Fui ver o "Substituto" num cinema de reprise, dos poucos que ainda têm cortininha para abrir e fechar, na cerimónia que é o ritual do espectáculo. Nós, espectadores da arte, sentados em pequenas poltronas para digerir o jantar, nessa noite fria. Detachment, Distanciamento, desligamento, desligar, trata-se  de nos colocar perante personagens cuja distanciação afectiva cria situações de incompreensão e raiva,  renúncia e negação. Numa escola americana com boas instalações mas com uma população de almas esgotadas, dos mais novos que não querem saber, aos mais velhos que não sabem transmitir, cada um no seu pequeno aquário de sofrimento e perplexidade é retrato de uma sociedade onde estão todos zangados, desiludidos e frustrados uns com os outros e que, por isso, desligam e, curioso, para não sofrer, para não sentir, acabam por se exigir nada, criam um vazio onde cabe tudo e nada tem valor. Os mais vulneráveis são os que não aceitam, que têm muito para dar e não sabem como ou a quem, por isso sossobram na proporção do sonho. O protagonista é uma espécie de sobrevivente da catástrofe, abandonou expectativas e sonhos,  reage de forma surpreendente,  lê melhor o que se passa à sua volta porque não espera nada e pode "fazer a diferença", sem querer, porque não mistifica, não ilude, abandonou as regras e as pretensões. Tocante é a figura daquela pequena prostituta, fabulosa actriz, a lembrar  Natasha Kinski do Tess, em versão citadina.

3 comentários:

CCF disse...

Parece aliciante...está no cinema regular? Desligamento - parece ser o estado em que grande maioria vive.
~CC~

via disse...

CCF: Está em Lisboa, em algumas salas, vale a pena.

S disse...

Sim, vale a pena.
:)