domingo, 17 de março de 2013

Alma

 
Deserto de Atacama, sessenta e seis antenas apontadas ao espaço intergaláctico, ao tomate vermelho, polpa e sementes, a configuração ou a palpitação, de uma coisa informe e misteriosa, quiça transbordante a todo o pensamento. o universo. sem dúvida que a curiosidade e a investigação sempre foram os actos mais nobres do homem, o conhecimento pelo conhecimento é, só por si, uma benção. Se nos colocarmos no lugar que ocupamos no imenso, talvez a nossa visão se aguce, a nossa importância calibra-se nessa relação entre o nada que somos e o sonho que temos. sempre me pareceu excessiva e doentia esta apologia do indivíduo que a modernidade instaurou. sempre me foram dignos de admiração os que se volatizam para se entregarem ao vórtice de um todo que tem mais de sonhado e, no entanto, é mais real que todas os estados do ego. reparo no papa à janela do vaticano, as botas engrachadas, a batina, e sinto que há qualquer coisa desse movimento de projecção no absoluto a partir da consciência do que se é verdadeiramente, um entre a multidão, um só que renega deglutir toda a diversidade na inquietação e dela faz um veículo de curiosidade pelo mundo. acho que esse é o verdadeiro lugar onde nos encontramos, quando nos esquecemos, para mergulhar em qualquer coisa fora de nós, maior, definitivamente maior. Alma chama-se o telescópio, não é por acaso.

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