domingo, 28 de dezembro de 2008

Os caldos Knorr e a moralidade "autoral"

O post sobre o plágio atiçou a ira de alguns comentadores que aplicaram sem qualquer pudor ou justificação o óbvio, nada de mais enfadonho que o óbvio, escrevê-lo e dar-se ao trabalho de o comunicar é tão empolgante como uma lista de supermercado só com caldos Knorr. Um fogo de artifício só com foguetes de ruído, daqueles que as colectividades com pouco orçamento usam para lembrar que estão presentes mas sem com isso nos proporcionarem mais nada senão estrondos repentinos e monocórdicos. Gosto de fogo de artifício, em qualquer altura, de ficar com os olhos pregados nas luzes. De foguetes não, sobretudo quando têm pavio curto. Este meu texto auto-confirma-se, estaria tentada a seguir a norma e a reiterar aquela velha máxima de que a verdade é incómoda, mas resisto à tentação. Aliás, não resisti à tentação, que me desculpem mas que querem, a cada um o seu “panache” , um pequeno momento de glória, de autoria duvidosa.
Hoje, enquanto tomava a bica, alguém expressava a sua indignação por uma "coitadita" que copiou a tese de mestrado do namorado, que já a tinha copiado de não sei quem, entregando-a, com algumas alterações, num outro curso, passados seis anos. Pensei: porque não me lembrei disto há uns anitos atrás? Anda uma gaja a matar-se a estudar e na volta o seu esforço será sinónimo, a divulgar-se o método, de parvoíce, falta de esperteza enfim! As teses de mestrado proliferam na net. Não se deve. Não. Não. Não. As razões são óbvias. Mas que se pode, sim, facilmente. Ora quais as implicações dessa facilidade? Não se mata o bicho à catanada. Certamente que não. A única forma de repor a moral talvez seja uma nova classe de funcionários de fiscalização que percorram com afinco os milhões de artigos e teses, em todas as línguas. Pagos pelo Sócrates que segundo rezam as más-línguas obteve o seu diploma com as manigâncias próprias de alguém que não tem tempo para o estudo de tal modo a arte da polis o ocupava. Mas quem chamará ao Sócrates "coitadito"? Ninguém. A maioria votou nele para chefe da pátria lusa. Em guarda! Que se levante a polícia dos costumes! No tempo do Salazar…nada havia para copiar!
Um autor moralista, não é um autor mas um polícia de costumes, um autor produz, escreve, tremerá das perninhas se viver disso e se pelo plágio alguém puser o seu trabalho em risco. Lutará então pela reposição da verdade, não por questões de moralidade mas por questões de sobrevivência. A verdade não é uma questão moral.Dificilmente um texto moralista será verdadeiro. Assim como um autor não é um polícia de costumes.

Um comentário:

tacci disse...

Via:
Ainda bem que não copiou a sua tese. Não que a mim me fizesse a mínima das diferenças, mesmo que tivesse copiado a minha: era de si que eu teria pena se, por acaso, o viesse a saber.
E não é propriamente uma questão moral, sabe? É estética.