segunda-feira, 13 de julho de 2009

Agrada-me o ar do Algarve, leve e seco, aquela presença calma do mar, a paisagem de alfarrobeira, esteva, oliveira e amendoeira, os peixes grandes e pequenos, abundantes. O Algarve lembra-me o meu pai, a última imagem que retenho dele, justamente nesta praia D.Ana, encostado à rocha, costas direitas, olhando o mar como quem olha para a sua infância, como quem recorda. A saudade do meu pai, imensa, incontornável ,revive aqui, está aqui mais que em outro sítio, talvez porque sentisse a sua felicidade quando chegava, compreendia o quanto teria desejado aqui morrer, embora nunca o tivesse dito. Sinto agora como sou parecida com ele, como me moldo aparentemente ao que tenho mas mantenho aquele coração aberto e nostálgico, aquela fixação no que poderia ter sido se... herdada sem palavras, diria intuida a partir daquilo que entendo ser o universo forte e impositivo da minha mãe que ao agarrá-lo também o afastou, deu-lhe novas coordenadas, as dela, ele aceitou por amor, um amor leve, pouco exigente, um amor de filigrana, consistente, um amor olhado na direcção do outro. Durante muito tempo julguei que o meu pai era um fraco porque ia, concordava, não deixava o seu estado ser reconhecido e afectar quem estava perto dele, queria-o forte e combativo, estava enganada, sim. Hoje estou definitivamente triste.

8 comentários:

Anonyma disse...

Perdoa-me a ousadia de comentar algo tão teu...só que...às vezes é tão mais fácil partir em vez de ficar, de permanecer, de insistir...ainda que o olhar se retenha no horizonte...
Só muitos anos depois compreendi realmente isso...

Cassandra disse...

Mas não é mais nostálgica que dolorosa, não é, amiga?

mixtu disse...

o ar da paz
do calor
o pai que nos faz recordar...
a dor que ainda não senti da perda...
a vida e as suas vias
o ser imortal.... ter alguém que nos recorda...
a saudade

a tristeza... num pensar doce...


abrazo serano

g disse...

Os nossos pais eram parecidos, agora fiquei eu de lágrima no olho a olhar para o lugar onde o queria.

Rui disse...

A tristeza é como as encostas da praia - em Março, caiam para cima da escada de acesso ao areal. Pareciam que sempre havia de durar.

via disse...

anonyma, não sei o que seria mais fácil mas talvez tenhas razão.

cassandra:acho as duas, juntinhas.
bjo

mixtu: pois és um sortudo por ainda não teres tido estes abanões. abraço citadino

g: são as saudades, as saudades dão-nos para chorar.

Rui: mas dura. depois acaba e depois vem e depois acaba é assim!

Anônimo disse...

Abraço...

via disse...

Anónimo: Obrigada