quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Por causa da Teresa

a vida não tem ética alguma. rege-se por um conjunto de circunstâncias que se juntam por acaso, sem qualquer razão e que ditam um destino. a ética vem socorrer-nos com a sua clarividência contra esta lei cega. cria-nos a ilusão que há uma ordem para as coisas ou uma justiça, mas de facto não há, no caso da morte a Ética é completamente impotente. morrer com a consciência leve ou pesada é sempre morrer. e morrer quando se está no meio da tarefa de viver, quando se quer viver, quando se quer fazer muito, completar. não faz sentido. é uma revolta. Acreditar num Deus misericordioso pode impedir a revolta, mas é uma dura prova para quem é dotado de sangue e pensamento. é uma prova que está para além de toda a compreensão. se há um Deus cuja vontade comanda a vida e a morte, porque havemos de lhe dar o amor que ele nos tirou? na vida vamos morrendo e renascendo e esse movimento não depende da nossa vontade, forças cegas, animais, mas também a força com que acreditamos na beleza das coisas, na sua justiça, na sua ordem, acreditamos que há um equilíbrio e que ele vai nascer do caos. será essa força a crença numa transcendência? talvez. mas não necessariamente, é a força dos valores em que acreditamos. mas depois há isto. este vazio. como que uma interrupção incompreensível onde todo o pensamento se aniquila.

6 comentários:

Apple disse...

Fabuloso texto.Senti, sinto, na minha vida cada sílaba...

Bjs

AnaMar (pseudónimo) disse...

Excelente reflexão.

Valores em que acreditamos, ou que nos foram impostos?
Este vazio, que quase nos obriga a acreditar em algo Supremo, para que não "endoidemos".

Bjs

g disse...

Boa altura para reler o "Guardador de Rebanhos".

Bj

mixtu disse...

a vida...
a ética...
o vazio...

a ordem... é necessario a clarividencia ....
abrazo serrano y europeo

via disse...

Apple: agradeço-te, penso que há certos acontecimentos comuns mas tão inexplicáveis e absurdos que nos fazem rever tudo. bjo

AnaMar (pseudónimo)não sei se importa saber se nos são impostos ou não se neles acreditamos,utilizo aqui o argumento de Pascal: se nos servem para viver melhor, porque não, mesmo que possam ser discutíveis, não poderemos saber a verdade, mas podemos saber que nos são úteis, isso basta.bjo

g. Olha, minha ignorância, não li, nem sei do que se trata, mas podes sempre dar-me coordenadas. bjo

mixtu: embora de nada adiante, a clarividência, não a podemos abandonar.
abraço marítimo

Afranio do Amaral disse...

Sou Afranio do Amaral, e morro e renasço para seguir fugindo de mim.
Cumprimentos.