domingo, 27 de junho de 2010

Rapunzel

Comecei um atelier de escrita criativa e ilustração a meias com uma colega de artes. Planeámos uma viagem pelas histórias tradicionais e na passada quinta feira foi a vez da Rapunzel, como todas estas histórias cuja origem é provavelmente oral, as versões são diferentes umas das outras mas há certos acontecimentos que se mantêm e, pela sua persistência podemos inferir que são mesmo os traços essenciais da história. Em todos as versões se mantém o modo como Rapunzel vai parar às mãos da Bruxa. Tudo começa com a esterilidade dos pais da futura Rapunzel, anseiam muito um filho, até que um dia por milagre isso acontece, mas em vez de ficarem sossegados e felizes, a futura mãe deseja desmesuradamente as alfaces, espinafres ou raponzos (consoante a versão)do quintal do lado. À beira da morte por inanição consegue comover o marido que salta o muro durante a noite e rouba os ditos legumes. Mas a mulher não fica satisfeita,a obsessão é cada vez maior e o crime do futuro pai irá continuar, até ser apanhado pela bruxa, proprietária do quintal. Incapaz de lhe dar um murro ou de negociar, aceita as suas condições e dá-lhe a filha recém-nascida em troca das alfaces roubadas.A facilidade com que cede às exigências da bruxa sem se bater, são inexplicáveis. Passemos à frente, anos mais tarde Rapunzel, encarcerada numa torre, infeliz e solitária, encontra um princípe, e parte com ele (em muitas versões fica imediatamente grávida quando o conhece...) é então proposto ao grupo que, a partir da frase :E RAPUNZEL GANHOU ASAS continue a história e oh espanto! quais as versões propostas?Pois são as seguintes: Rapunzel tinha os filhos, enlaçava-os juntamente com o marido, na sua longa trança (ficando com um peso brutal) e ia à procura dos pais para lhes perdoar. Dos pais que a tinham trocado por um punhado de alfaces ou espinafres, legumes enfim. Surpreendeu-me esta resposta, tinha outra expectativa, contava com mais ousadia por parte dos adolescentes. Uma loucurazita, não?

7 comentários:

g disse...

Ganhar asas não tem idade, e grandes expectativas também arrastam maior desilusão.
Dar a Rapunzel uma vida extraordinária era recomeçar uma história já escrita.

R. disse...

Três notas:
1 - Bonita ilustração.
2 - Tão pouca ambição (do pai) para tão grande cobiça (da mãe).
3 - Os adolescentes passam habitualmente por uma fase de moralidade convencional que antecede fases de maior questionamento. Quem sabe se não é o caso? ;)
E uma última ainda: parabéns pela iniciativa. A última em que tive oportunidade de participar foi num ateliê de caligrafia... maravilhoso! Espero que seja igualmente gratificante.
Um abraço.

Unknown disse...

Eis um trabalho meritório.

A divulgação de narrativas para as crianças é muito importante e deveria merecer maior atenção nos conteúdos educacionais.

São uma fonte inesgotável de conhecimentos e aprendizagem.

É esse o sentimento que tenho, pela razão simples de levantarem dilemas e confrontarem os leitores com escolhas.

Isso ajuda imenso a amadurecer.

Desejo-vos o maior sucesso.

Bjs para a dupla.

Rosa dos Ventos disse...

Uma loucura do tipo:
Rapunzel partiu sozinha e deixou o marido e os filhos entregues à bruxa.
O que ela queria mesmo era recuperar o tempo perdido naquela torre! :-))

Agora a sério.
É um dos contos preferidos das minhas 3 sobrinhas-netas...que estão entre os 6 e os 10 anos.
Vamos a ver se ainda me vão pedir que o conte mais uma vez à beira da piscina enquanto lancham!


Abraço

via disse...

g: pois era essa a ideia, recomeçar, reescrever a história. Com asas Rapunzel já poderia prescindir da sua longa e incómoda trança, e partir, tanto tempo encerrada, recuperar o tempo perdido vendo aquilo que nunca tinha visto.

R:Também pensei no tópico 3, a adolescência ainda é muito conservadora, é mais tarde que se dá a transformação, e se vive a fase mais transgressora, criam-se verdadeiras alternativas. Ainda é cedo. Gratificante em todos os sentidos, criativo, cognitivo, social, humano. Caligrafia? Nunca tinha pensado nisso. Boa sugestão.Obrigada pela gentileza.

JPD: Concordo, continuamos o que vem detrás, damos-lhe nova cor, reavivamos memórias. A questão da escolha, bem visto.Obrigada pelo incentivo.

Rosa dos Ventos: Também pensava que era bastante popular mas a verdade é que nenhum dos elementos do grupo ainda a conhecia. Ora aí está, era essa a expectativa, ehehe assim uma coisa mais louca.

Carlos Pires disse...

Não.

Anônimo disse...

Gente alguem poderia me ajudar a montar um perfil da Rapunzel do conto orginal e a Rapunzel das versõs mais recentes ,acho que traça uma linha interessante de como foi a mulher e de como é.