segunda-feira, 2 de maio de 2011

FAMÍLIA





gosto muito de pessoas que se entusiasmam e falam e riem e se dão a conversa como se mordem as cerejas, sem articular coisas bem pensadas, só ao sabor do momento e gosto porque são contagiantes, porque nos fazem sentir bem. a minha mãe, por exemplo sempre foi contida, muito opiniosa e ciosa de ser tomada verdadeiramente a sério, gostava que fosse mais desprendida, mas o que me une à minha mãe, aliás o que nos une às mães, pais irmãos, sobrinhos, não são os traços de carácter contagiantes, não é a mais valia comunicativa mas o factor essencial e absolutamente superior, quando comparado com outros, de estarem presentes, de estarem lá, de terem estado lá, a presença e a constância da presença são os seus atributos maiores, são afinal e pensando razoavelmente bem, os atributos maiores de qualquer união. Não a escolhemos e, por isso mesmo, por nos ser dada, cada um com as suas características mais fracas aos nossos olhos, torna-se mais querido, porque são nossos enfim e por eles velamos sobretudo nas suas fraquezas.Quando vivemos com uma pessoa, parece que o traço que nos une é igualmente a presença mas aí há uma escolha, e quando há uma escolha há uma série de expectativas que pensamos realizar, o outro não é nosso, não o sentimos enquanto tal porquanto a escolha é um acto de vontade que cessa quando cessarem as expectativas que a motivaram. A não ser que a escolha seja ontológica, isto é, na ordem de uma vontade que não escolhe o outro como meio para realizar algo mas como um fim em si.

3 comentários:

R. disse...

Absolutamente, via! De um modo geral, o que nos une à família ultrapassa as preferências pessoais de carácter, porque é quase sempre incondicional. Já a ligação a outros carece de mais requisitos e reforços mútuos. Estamos 'programados' para estabelecer esse tipo de relações em benefício próprio, independentemente da consciência ou assunção disso mesmo.
Abraço 'fraternal' :)

S disse...

Concordo. Apesar de nem sempre ser fácil gerir tudo isso.

via disse...

R: Essa ideia de estar programado para tirar algum benefício, parece-me infinitamente tranquilizadora.bjo

ss:pois não, muitas vezes não gerimos nada deixamo-nos gerir.eheheh