quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

deixo de lado

deixo de lado
os ramos e os pés
a luz e o coração
o fantoche de palha das emoções bárbaras cicatrizes
a figura trémula do meu pai
a figura presente da minha irmã
Rimbaud que se desfigurou
a atravessar planícies

Vejo a roseira do jardim
ao alto
o pânico de voltar ao lugar
onde descubro nem ser feliz
sem crueldade como quem traça a perna no sofá e amassa na ponta dos dedos a factura do gás
Deixo de lado
o meu amor cansado
as partidas dos aviões para o Norte de África
ao início do crepúsculo
lembro-me de quase nada
de tanto me tentar lembrar
permissivas gotas de absinto
no calendário
os anos
seguram
crianças ébrias
sorrisos florescentes
matas
à temperatura de um corpo.

6 comentários:

L.S. disse...

Deixar de lado,também disso ou sobretudo disso se faz a vida...
Bom Ano.

manhã disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
via disse...

L.S: pois para dizer a verdade, embora com excepções meritórias, pois concordo e bom ano.

CCF disse...

Bonito poema!
Que faças muitos em 2012, isso fará dele um ano mais rico.
~CC~

via disse...

CCF: é vero, excelente enrada para 2012!

R. disse...

A "veia do poeta" é inegável aqui. Venham mais como este ou como outros quaisquer, que o potencial não se fica pela prosa. À medida que lia interrogava-me sobre a provável reconhecida e talentosa autoria. Depois percebi que só me enganei quanto à popularidade do autor.

Um abraço e que o novo ano te mime.