terça-feira, 22 de abril de 2014

Coimbra antes da Páscoa


é suposto admirar este lugar a norte do meu apartamento de três assoalhadas nos subúrbios da grande capital; esta cidade esfingica de secretismo e história, de capas negras e sabedoria. Coimbra reagirá certamente mal a este odor pequeno burguês, que lhe fareja o rasto escondido, este halo de visita turistica sem guia, entre máquina digital e contemplações embevecidas. Ela que foi cantada pelos barbos mais sérios nas curvas do seu mondego triste, nas arcadas e escadarias dos doutores,  na eloquência dos seus manifestos onde o regime começou a desfazer-se. E se não fosse o seu passado anti-fascista, teríamos Pedro e Inês, os amores e segredos, a sua tragédia. Talvez estes novos tempos de números e vacuidades clubísticas a tenha desolado e amargado o vinho dos toneis; hoje Coimbra parece-me muda e expectante, só, cenário de uma movimentação a que é alheia, tumular como um velho correndo a guardar os seus pergaminhos e tesouros com a chegada dos vândalos. Há almas assim que não se dão logo, ocultam-se num ponto recuado onde ficam à espera que desistas e te vás. Assim deve ter acontecido, não tive tempo para bater forte com os pés no chão e abrir a gruta, faltou-me ou esqueci esse dom, o dom da palavra que desvela as pedras.

2 comentários:

cs disse...

Para a próxima avise, sff.
:)

via disse...

Cs: Ok, eu aviso, não faço ideia como...