sexta-feira, 24 de setembro de 2010

para interromper o amor

De um modo geral não gosto dessa escrita "light" do pessoal da madeixa ao vento, com montes no alentejo, jeeps, uma bolanda constante de amores cama e sexo bom mau e assim-assim. faz-me lembrar a continuação das músicas do Tony Carreira, há só "mins" e "tis", nada que faça eriçar os pêlos dos braços, coisa cool essa de escrever livros desabridos- não gosto da moda, não é nada pessoal como agora se diz muito, (quando em geral quase tudo se passa entre as pessoas e mais nada). mas este livro... folheei-o numa livraria do centro comercial na pausa do almoço, comprei-o por causa de uma passagem e devorei-o até ao fim da tarde, (este tempo abençoado de poder ler livros de fio a pavio entre o remoínho das ondas), então..."sabes como são as coisas, as pessoas podem envolver-se por causa de uma fatalidade, uma frase, uma perdição, um copo que toca no outro, uma luz muito azul,insectos que voam na varanda."A voracidade, das relações e também a consciência lúcida do encantamento como o vôo das borboletas, efémero mas trágico: " Se tens vontade, se tens o quê, se tens medo, se já sentiste tanto por alguém, se sabes o que queres, como queres, onde queres, se achas que vais sobreviver bem, se achas que estás capaz de morrer porque se morre sempre, se vais comer-me com os olhos, os teus olhos nos meus olhos,se vai ser tudo finalmente,se vai ser tudo de repente, se vai ser tudo com calma, se vai ser. Se me adoras, se te faço rir, se te faço gozar, se me queres, quanto queres, se sou o que tu queres agora. Eu e mais ninguém.Na tua cabeça, na tua boca,nas tuas mãos..." talvez porque é uma mulher a falar do amor com outra mulher e talvez isso, só por si, seja terrivelmente sedutor. É forçosa a criação de uma outra linguagem porque a velha não lida bem com este tema. Havia um escritor (hei-de lembrar-me de quem) reclamando que entre mulheres a narrativa não era possível porque elas entopiam a narrativa, este é um caso para testar essa orquestra que foi fantasma e ganha corpo.

10 comentários:

R. disse...

Concordo com tudo quanto dizes acerca da literatura 'light'. Também não sou 'fashion victim' :), nem mesmo no que toca ao amor. A ter de escolher, prefiro as definições clássicas às pós-modernas tendentes para o reducionismo do 'amor chiclet', que é como quem diz, 'mastiga e deita fora'. Não, obrigada.

Um abraço e a inocente e profunda inveja de não poder dedicar uma tarde a devorar um livro :)

via disse...

R: Fizeste-me lembrar aquela canção "Chiclett" mastiga e deita fora...

Ana Paula Sena disse...

Bom, eu gostei muito da ideia de comprares o livro assim de rompante :)

Também fiquei curiosa acerca do tal escritor e d'"elas a entupirem a narrativa".

Abraço!

g disse...

Interessante observação, fiquei curiosa.

Boas leituras.
bj

R. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
R. disse...

:) Muito bom!
Agora fiquei com a música na cabeça... :)

via disse...

ana paula sena: olha já não me lembro de quem foi que o disse, mas fez-me pensar...agora vou andar à procura do nome, quando souber digo-te.bjos

g: obrigada. lê-se de um trago, depois mais nada, lê-se bem e já não é pouco.bj

R: fica mesmo, é como a chiclett!

CCF disse...

Acho que a Mónica foge um bocado ao estereótipo e tem realmente bons bocados literários, costumava ler o blogue dela.
~CC~

via disse...

CCF: ora aí está! fui depois ao blogue, há passagens muito belas, cheias de intensidade, também sou da tua opinião.

sem-se-ver disse...

...mas dessas passagens que citou, para mim, nada de bom se augura...

(darei, talvez talvez, o benefício da dúvida...)

o blog dela, é, na minha opinião, assim-assim: capaz do muito bom e do medíocre. assim-assim, portanto, como média.

continuo é à espera do livro-que-nunca-mais-sai da sofia vieira versão um-amor-atrevido. isso sim. a melhor escrita literária sobre o amor na blogosfera, e extra-blogesfera, desde há muiiiitos anos.