terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ora, hoje, 14 de Fevereiro, antes que o dia acabe, antes de pensar, antes de amparar os papéis, voltar a cabeça, antes de deixar o dia, ou quando o vou deixando, aquietar, resguardar, manter, desacelerar.
hoje evoco Baudelaire, quando se punha a dizer que as lembranças são mais uma forma de sofrimento e, por isso, inúteis, em cima do dorso da vida, chamamos vida à mistura finíssima de todas as lembranças com pequenas queimaduras da pele, mais o latejar constante do sangue? ou o sonho, transparente, e a penugem baça de estar acordada.

(este relógio está uma hora pra frente, atraiçoando o momento)


foto de Jorge Rato

5 comentários:

S disse...

Por vezes, é verdade, as lembranças podem ser uma forma de sofrimento.
Mas também podem ser tão boas...

R. disse...

Baudelaire ignorava (talvez deliberadamente) o efeito poderosíssimo das boas lembranças: das que nos animam, das que nos encorajam, das que nos 'galvanizam', etc, etc. A vida, ainda que infinitamente mais complexa, é feita dessas lembranças também. O peso relativo que lhes atribuímos, esse, sim, é variável.

Desculpa o reducionismo do meu comentário perante a vastidão do que aqui evocas.

Um abraço grande.

jp disse...

Vida, mistura finíssima de todas as lembranças, dizes bem . E não se apagam as cicatrizes,tatuagens .

Hoje deixamos-te olhar com atenção
para o teu umbigo,o registo de onde tudo começou. Mas só hoje ! Por ser o teu dia! Beijo de parabéns!

g disse...

...e aquele dia que existindo no contar dos dias, não existe no passar da vida, desse nem lembrança só uma ideia de como seria!

manhã disse...

ss: podem, tens razão, esta visão é negativa, também acontece.

R:baudelaire era dado ao corte a cru, sem dourar, é mais comum que as lembranças nos roubem um sorriso triste do que uma febre de actividade, são lugares contemplativos donde se retém o bom, enevoado pela boa vontade com que o fazemos.nunca és redutora R.abraço

jp: obrigada pela lembrança, registo a patente do umbigo, sem grande orgulho. gosto destas tuas sacudidelas de pó! bjo

g: imaginação pro futuro a partir de umas achas do passado, é isso?