sexta-feira, 29 de abril de 2011

notas à margem

Notas à margem, uns endereços rabiscados numa fila gráfica perfeita na página branca do caderno sob a cama, os cadernos e as camas e o que se faz ou sonha entre duas superfícies lisas. A perna traçada do Barceló, o sapato grande pingado de tinta, e o seu cabelo subindo com a idade para o céu, ralo. Na praça do Império dois grafiteiros desarrumam umas letras gigantes na parede do monumento, (dar-te-ia um pontapé nos tomates se não fossem 4 da manhã e tu não tivesses o dobro da minha altura). Os ouvidos exasperados de Abril adormecidos na lenga lenga das perguntas que o coelho faz a Alice, onde estavas tu? princesa, o teu castelo, que seria dele se não houvesse o buraco atrás do espelho por onde te escapaste? O mesmo é espreitar da varanda sobre o rio e no meio de uma certa neblina ancestral, semicerrar os olhos ou mantê-los abertos sob as escunas que largavam a barra e os picos onde nunca irei, existentes sem dúvida, e essa certeza é esquisita, em terras do Perú. Terras, longe. envoltas em desejo lasso. seguir-te-ia, se, como os gatos, tivéssemos sete vidas, numa delas te seguiria. se a vida fosse em folhas largas picotadas que pudessemos desprender umas das outras e elas sozinhas cumprissem o desígnio mais secretamente ansiado,várias vidas alice, e sorris, dentro de uma vida ou ao lado das outras.

2 comentários:

R. disse...

Não há palavras, via. Dizer qualquer coisa a respeito deste texto, conspurca-o. É perfeito e sublime. Uma espécie de ode ao surrealismo literário mas, melhor do que tudo, à 'escrita ao sabor da pena', que tão irrepreensivelmente te caracteriza.
[E sim, grafitis em monumentos deviam ser punidos assim ;)]

via disse...

R: é mesmo isso, ao sabor do momento.bjo