quinta-feira, 2 de junho de 2011

romantismo 2

Estava a ler Kierkegaard e é como chegar-se à ribalta do teatro vazio, subir as escadinhas de um púlpito à esquerda, embaraçar-se na toga que não autoriza senão certos gestos e ouvir os zunidos de um silêncio fundo, custeado por alguns séculos de mecanismos de labor e eficácia. Martelar as palavras, atirá-las para longe, que a parede é apenas uma metáfora da indiferença, ganhar alento justamente quanto maior for a surdez alheia. Um teatro vazio emociona mais que uma plateia aos gritos, falar de fé, exaltar-se, como se continuamente lutasse contra a comodidade das explicações" Não! Nada será perdido dos que foram grandes!" diálogo de poeta para herói destinados ambos a missões tão altas quanto impossíveis. Crer no impossível levar a sério aquilo em que se crê, mesmo só um sentimento, e como são voláteis os sentimentos!!, sopros! mas nada haverá tão sólido quanto sério. Nada, dado. Não será de admirar aquele que de um sopro constrói um edifício, com quartos, janelas, portas e sala de arrumos? E uma vez o edifício construído poderá nele morar exausto. SE gritar das janelas, só as nuvens a passar, as nuvens, o céu, as gentes absortas.





Foto de Maria Helena Lebre

3 comentários:

jp disse...

Belo. Mesmo a precisar . Volto cá amanhã, num dia de reflexão vai saber bem reler e olhar estes belos "romantismos" .

R. disse...

O teu texto remete-me para a transcendência. De facto, é muito mais fácil investir no que é tangível, seguro ou soialmente reconhecido. E são, também por isso, admiráveis os que se propõem transcender o conforto, a imediaticidade e o reconhecimento.

Um abraço.

via disse...

jp: pois estão por aqui, vão ficando, vem as vezes que quiseres. bjo (espero que tenhas feito uma boa reflexão!)

R: Trata-se de facto de transcendência, de a impôr como realidade, furtada à lei da causa efeito e ao reconhecimento, como dizes. abraço.