domingo, 13 de novembro de 2011

os idos de março

O título deste filme "Nos idos de Março" tem uma ressonância estimulante. poderia lembrar-nos "Julio César" e a profecia do adivinho perdido no meio do entusiasmo da multidão: "Tem cuidado com os idos de Março". Na verdade o imperador caía assassinado pelos seus amigos e conselheiros, a 15 de Março. Em Roma as discussões de poder arrematavam-se com uma qualquer tragédia. Não se discutiam as infidelidades e os casos de alcova nas manchetes dos jornais, mas hoje, em 2011, o imperador é um candidato a presidente, numa América hipócrita com os bons costumes. Em democracia não se mata dessa morte de sangue, mata-se a honra, mata-se a dignidade, matam-se os escrúpulos e depois de meia alma morta, temos homem para presidente. Se as formas de afastar alguém do poder mudaram muito, a traição e a lealdade não, os jogos de sombra permanecem e as virtudes do carácter são a referência, mesmo quando não passam de um obstáculo para o poder. O filme de Clooney trata com pinças a velhíssima história de César e Fausto. Trair, vender a alma ao diabo pela glória. mas a verdadeira questão, a mais lúcida, é a de que o facto de alguém o fazer não faz recair sobre ele a pena mas condiciona todos os outros ao mesmo. Basta alguém viciar o jogo para que nele ninguém mais possa jogar limpo. É disso que se trata, do efeito das acções de um sobre todos. Quando Clooney diz que a sociedade tem de ser melhor que o indivíduo, está a referir-se a um ciclo vicioso, que ela, a sociedade, não pode ser melhor enquanto cada indivíduo agir apenas por si. Esta será apenas uma frase boa, mas utópica. Depois, actores, actores, actores e o milagre dos filmes.

4 comentários:

HL disse...

O dilema do prisioneiro?!
Ver se vejo.

S disse...

Está há algum tempo na minha lista de filmes a ver. Depois opino!
:)

R. disse...

O melhor das tuas "críticas" são a "associação livre" que te suscitam e com que generosamente nos brindas. Hoje lembrei-me de ti a propósito de cinéfilos e do novo filme de Almodóvar. Logo vemos se merece a tua atenção...

via disse...

HL: também, com o olhar de fora, daquele que sabe mas não pode evitar.

ss: Ok. fico à espera.

R: Ainda não vi, mas vou, com o Almodovar gosto tanto de saborear a expectativa como a apreciar durante e depois.