
há no filme "As asas do desejo" uma cena em que Peter Falk, o homem que abdicou, por desejo ou por amor, de ser anjo , conversa encostado a uma roulotte de estação, daquelas que servem bifanas e pregos. Adivinha-se uma madrugada de trabalho e este outrora anjo na sua gabardine encardida e barba de três dias resume calmamente a intenção de continuar humano: Poder beber um café e fumar um cigarro ao começo do dia quando a noite se levanta, num sítio anónimo de uma cidade anónima.
Para quê então a eternidade? Tudo recomeça igual mas irrepetível, e em risco, sempre em risco de ser único ou último.
4 comentários:
Wim Wenders...
Creio que vou beber um café e fumar um cigarro. Brindar à minha própria humanidade. Talvez seja tempo que se gasta que é a marca. Essa e a do Zorro, claro!!!
Necessariamente único, e raramente ansiado como último. Seja como for, é a capacidade individual de fruição que determina o valor dos momentos. Antes a capacidade de beneficiar dos pequenos prazeres do que a monotonia de uma eternidade apática.
Um abraço.
Excelente post. Humano tão humano na minha finitude.
helena lebre: esse doce amargo que tem o tempo que se gasta.
R: deixas-me sempre sem nada a acrescentar. talvez apelar à fruição colectiva.
cs: lembra-me um título de uma obra de Nietzshe: "Humano, demasiado humano"
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