domingo, 22 de janeiro de 2012





há no filme "As asas do desejo" uma cena em que Peter Falk, o homem que abdicou, por desejo ou por amor, de ser anjo , conversa encostado a uma roulotte de estação, daquelas que servem bifanas e pregos. Adivinha-se uma madrugada de trabalho e este outrora anjo na sua gabardine encardida e barba de três dias resume calmamente a intenção de continuar humano: Poder beber um café e fumar um cigarro ao começo do dia quando a noite se levanta, num sítio anónimo de uma cidade anónima.


Para quê então a eternidade? Tudo recomeça igual mas irrepetível, e em risco, sempre em risco de ser único ou último.

4 comentários:

helena lebre disse...

Wim Wenders...

Creio que vou beber um café e fumar um cigarro. Brindar à minha própria humanidade. Talvez seja tempo que se gasta que é a marca. Essa e a do Zorro, claro!!!

R. disse...

Necessariamente único, e raramente ansiado como último. Seja como for, é a capacidade individual de fruição que determina o valor dos momentos. Antes a capacidade de beneficiar dos pequenos prazeres do que a monotonia de uma eternidade apática.

Um abraço.

cs disse...

Excelente post. Humano tão humano na minha finitude.

via disse...

helena lebre: esse doce amargo que tem o tempo que se gasta.

R: deixas-me sempre sem nada a acrescentar. talvez apelar à fruição colectiva.

cs: lembra-me um título de uma obra de Nietzshe: "Humano, demasiado humano"