terça-feira, 2 de junho de 2009

que procuramos nós ao ler um livro? há vidas ali descritas, reais porque é possível que sejam reais, o facto de serem descritas tira-lhes a opacidade e o segredo que há em cada corpo/vida que conhecemos, deste ponto de vista são mais reais, porque se mostram mais, mesmo o que ocultam o autor Deus faz o favor de desocultar e de nos dar a ver o mecanismo do relógio o que em tempo vida real só vemos o relógio mesmo e em horas diferentes. No mais íntimo não poderemos responder a esta pergunta senão com a nossa descoberta, demorada.demorada e nem sempre digna de ser revelada. mas,o que valerá a pena escrever ou revelar? no tempo vida real confunde-se tudo, misturam-se a virtude e o vício, a alegria e a tristeza, o cíume e o desprendimento, mal os captamos vemo-nos a perdê-los e rapidamente se tornam outros. nenhuma lógica, só uma narrativa circular e fastidiosa, este labirinto desorienta, quem somos não tem resposta, volatizamo-nos então em mil tarefas ou em mil pequenas dores que não queremos tocar por ofenderem a razão. nessas alturas, se temos a sorte de alguém nos pegar na mão e de nos amar, nem que seja por breves segundos, tornamos a respirar e compreendemos duas pequenas coisas maravilhosas: a primeira já foi mil vezes dita e reedito-a agora: só o amor nos faz, junta as peças; a segunda é que há mil formas de ser e todas têm o seu fascínio mas saber qual a nossa é tarefa de uma vida e imprescindível. ler permite-nos pensar que não há impossíveis e que é tudo humano, mas sobre a nossa própria forma não há leitura a abençoar e é dela que todas as leituras partem e chegam.
imagem, Caravaggio

4 comentários:

Anonyma disse...

Sim de nós todas as leituras partem e a nós todas as leituras chegam mas a leitura encerra já em si um mar de impossibilidades que são nossas...possibilidades sonhadas, desejadas...mas realidades que nos escapam entre os dedos...
E eu que insisto em ler-me... dir-te-ei que leio por uma insaciedade infindável em perceber quem sou e quem somos todos...

Rui disse...

Ando a tentar convencer-me dessa inexistência de impossíveis - pessimista como sou, fraccionei a existência (vamos chamar-lhe assim) em partes o mais pequenas possível para ser mais fácil. Assim, dedico-me a convencer-me que não há impossíveis em relação aos livros que lemos e com que sonhamos.

mixtu disse...

as leituras ...

o amor que move...

mil formas de ser e de estar e de fazer...

Deus...

o homem...

um caminho... caminante, non hay camino se no andares...

abrazos serranos

via disse...

Anonyma: penso que é isso também que eu leio, a necessidade de me compreender e aos outros.mas os sonhos são sempre possíveis, mesmo que nunca concretizados, ou não?

rui:cada parcela lida ganha em realidade, uma possibilidade, mesmo que na vida nos pareça impossível, na literatura não há impossíveis.

mixtu: sim, o caminho faz-se andando, ou mesmo parado, na imaginação também...
abraços citadinos