sábado, 15 de maio de 2010

Razões de estado e outras

Depois de uma semana atribulada de festas futebolísticas e beatíficas, veio o déficit em forma de bicho papão, o capital , as oscilações da bolsa, o preço da moeda europeia, a competitividade do mercado. Pelas ruas as palavras do papa ainda ecoavam, o pai que perdoa e acredita, o pai que ensina a esperar. Haverá uma razão de estado para esta sequência? O Papa, o pai e o Homem de Estado, (santíssima trindade) o mesmo pai que alerta para a dissolução dos costumes (como se estes não sofressem constantes mudanças) e com a sagrada emenda do casamento indissolúvel entre um homem e uma mulher, esquecendo um milhão de pessoas em Portugal que declaram amar pessoas do mesmo sexo, essas, contra a evidência do número (argumento de credibilidade para muitos) são julgadas como responsáveis por essa "dissolução de costumes" e estão indubitavelmente enganadas. Alguém aqui está enganado. que argumentos reais tem o papa a dar? que exemplos?que factos históricos para demonstrar a sua verdade? A constante utilização de conotações morais para palavras como "dissolução" quando estas são descritivas de factos, não revelará uma forma ideológica e manipuladora de as utilizar? Será que de tudo isto se salva uma lógica? é muito mais fácil e reconfortante acreditar no milagre de Fátima, ou acreditar em alguém culto e erudito que acredita no milagre de Fátima, se tantos cultos e eruditos acreditam deve ser verdade ( mesmo que seja uma grande mentira) do que compreender a bolsa, as variações da taxa de juro, a vizinha que vive com uma mulher e quer casar com ela. a crise dos mercados, tudo isto é moderno demais, não entra bem, é estranho, é uma moda, passa.

Seja como for, os não crentes no poder da igreja não esperam outro discurso senão o tradicionalista, a tradição, claro, é tão cómodo e tão falso apelar a um passado mítico e romãntico onde se exorta o bem e se esquece o sujo, o violento , o degradante. Todas as formas de totalitarismo causam arrepios, é certo que este totalitarismo hoje só se move no discurso e na evangelização, mas também é certo que tempos houve em que se moveu com o poder das armas e não foi agradável. Precisaremos nós que alguém vestido de branco nos venha dizer como as coisas devem ser? Precisamos de facto? parece-me que ainda não saímos da menoridade moral, precisamos do Pai, do tutor e enquanto precisarmos dele, ele virá, mas não nos enganemos, nada é de graça, esta protecção tem o seu preço, em tempo de dúvidas acreditar numa verdade sem demonstração, liberta-nos individualmente, é verdade, mas não nos faz crescer enquanto humanidade.


A verdadeira realidade é a de muita gente que sofre e vê os seus direitos esquecidos pelo discurso dominante e o seu sofrimento menorizado pela moral dominante, de vítimas passam imediatamente a carrascos, a elementos a dissuadir e daí que a manifestação contra a Homofobia, em Coimbra dia 17 de maio, às 16.30. seja oportuna e necessária, o discurso contra poder é o único capaz de manter o equilíbrio e a democracia, sinto-o agora,mais que nunca, como uma emergência!

10 comentários:

uminuto disse...

sem dúvida uma verdadeira emergência
...e a par disso lembrar o aproveitamento do Governo para implementar medidas anti-sociais durante esta visita-de-estado (??).
mais uma vez a religião foi o "ópio do povo"
um beijo

via disse...

uminuto: pois é, foi providencial, depois da bonança a tempestade, ou vice versa.bjo

Ana Paula Sena disse...

Um grande texto, via.

Parabéns!


Um beijinho.

R. disse...

"Regozijemo-nos" Via, hoje que a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo foi promulgada e que passam (apenas) 17 anos desde que a homossexualidade foi excluída da Classificação Internacional das Doenças Mentais. Mais vale tarde que nunca ;)

via disse...

ana paula sena:obrigada!bjos

R: Festejemos então! Tchim, Tchim!

ivone disse...

e temos sempre o 4º e não último segredo de fátima se o 3º ainda não foi bem esclarecido aguardemos ansiosamente pelo 5º

Cassandra disse...

Uma coisa é certa, a Virgem é uma mulher inteligente. Percebeu de que este país era feito em 1917 e nunca mais voltou. Os pastores podem fumar o que quiserem mas visões destas nunca mais:))

Anônimo disse...

festejemos!
E estou como a Ana Paula Sena: um grande texto!
Subscrevo tudinho

Há.dias.assim disse...

Há tanto a rever na nossa sociedade...

via disse...

ivone: será? mais um? bem-vinda!

cassandra: ehehehe, foi visita curta, talvez com a crise venha mais uma vez, quem sabe? uma mensagem msm a avisar o pessoal não era má ideia!bjo

marta: obrigada e bem-vinda!

Há.dias,assim: haverá, em todas as sociedades somos todos razoavelmente imperfeitos.