domingo, 30 de maio de 2010

formas aladas

Marc Ferrez

"e tu ,deixa-te estar sentado na cercadura do infinito e limita-te a olhar o meu corpo aberto sobre o mar revolto"
esta frase persegue-me, na quarta feira enquanto andava à procura de um livro no quarto às escuras, assaltou-me , de repente, e depois repete-se com pequenas variações, já não sei se começa com tu, ou se o tu entra depois, nos sonhos vejo nitidamente a cercadura do infinito e enrolam-se as imagens com as frases. já tenho dúvidas sobre a sua origem, para a tornar real disse-a em voz alta a alguém que foi peremptória: Ah, isso é do Ricardo Reis! do Ricardo Reis? ao princípio tinha a certeza de ter sido eu a produzi-la, até me lembrava das circunstâncias, mas agora vacilo, a memória e a imaginação jogam às escondidas, jogam, mas não, na verdade não me lembro bem do poeta proposto, mas lembro-me muito bem da situação onde nasceu a frase, o melhor de envelhecer são as memórias. a memória tem uma quantidade apreciável de pequenas formas aladas que mesmo sem serem convocadas descem do seu adormecimento para nos socorrer.


7 comentários:

CCF disse...

A tua escrita solta-se cada vez mais, deixa-se ir como onda do mar :)
~CC~

a disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
a disse...

Quando jovens só temos tempo para ver o nascer do sol, depois... vêem-nos à memória os que valeram a pena.

R. disse...

Impressionante coincidência, Via. Hoje mesmo deparei com uma alusão ao Fernando Pessoa, que acabei por "postar". É belíssima a imagem de "cercadura do infinito". E da memória, diz-se que é reconstruída. Tenho para mim, que a imaginação a suplanta frequentemente, embelezando a realidade recordada.
Beijinho.
PS: Concordo com CCF, a tua escrita é "ondulante". Chega a embalar-nos :)

maria joão carrilho disse...

Como sempre, a imagem óptima para as palavras escritas, ditas, ouvidas,colhidas ou recolhidas. Por vezes não se sabe como brotam as palavras, mas serão necessariamente tuas quando as dizes.Aqui,parecem vir do fundo do mar.

mixtu disse...

um corpo...
num mar revolto
de 7 ondas
azul... verde...

dois corpos revoltos

alados...

abrazo serrano

via disse...

CCF: como onda a queria, à escrita.

a:é esse o valor da memória a selecção ilógica.

R: sim a imaginação e a memória, não sabemos bem os limites, mas as palavras escrevêmo-las, sobre o papel. mas teríamos copiado de algum lado? esta foi rascunhada e emendada, tem a sua própria documentação histórica, dei-me ao trabalhão de o verificar, depois de tanta dúvida.
embalemo-nos então...

joana padrel: Olá! há tanto tempo! não basta dizê-las para serem nossas, embora seja verdade que muitas frases do pessoa sejam nossas porque se rodearam de memórias e ganharam novos sentidos. é verdade.e vêm.

mixtu: sete é número com carga simbólica, o dois é mais...
abraço marítimo