quarta-feira, 26 de maio de 2010

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Frederic Church



passeamos à beira mar, ou na falésia ,com cuidado, os dias passam e entre eles há sempre o mar, o mar transfigurado, o mar feroz, o mar da minha infância. procuro os lugares ermos de onde seja possível partir, há na partida uma voz, um encantamento, um vôo de ave, um rosto emberbe. Quando se vai, mesmo não indo, é tudo de novo possível, a indefinível liberdade sopesada, na testa, roçando os ombros, essa vocação aérea para ser qualquer coisa, qualquer lugar, ou poder, contra a gravidade, ou esquecendo-a deliberadamente, o molde, a quadratura do quadrado.esse remoínho do imaginado, por momentos só ele real que se alarga ou comprime até ser só ansia, o mar quando nunca é do mesmo modo, vai e vem, pulsão a correr para sítio algum,permite reconhecer que esta graça, não sendo um estado de espírito, é da natureza íntima de algumas pessoas.

5 comentários:

Unknown disse...

Há quem diga haver uma cumplicidade especial entre o mar e a linha do horizonte.

O mar, visto da falésia, da praia, de qualquer ponto, está limitado aos nossos pés por uma linha que varia consoante a maré; por oposição a ela, há uma vastidão que parece inesgotável não fora a linha do horizonte iludir-nos e fazer a sua aparente marcação.

Ninguém resiste a eles (ao mar e à linha do horizonte)

Acontece é que quanto mais nos aproximamos dela, mais ela se afasta.

Esta edição vale pela extraordinária valorização destes elementos e da construção da ideia de evasão que o atravessa.

Muito bom, Via
Excelente ilustração.

Bjs

R. disse...

Isso. Há constância nesse inconstante pulsar. Não há dois iguais, é certo. E, contudo, há a certeza da sua (in)variável repetição. Como um convite sempre renovado à aproximação e ao (breve) afastamento. Algo afinal muito necessário e extensivo à imaginação... e não só.

Apple disse...

O mar, imenso, na certeza da sua permanência, ora calmo ora feroz. Poderoso e sedutor, sempre.

Anônimo disse...

Gostava de ter escrito este texto, Via

via disse...

JPD: Olá! tens razão, registamos essa experiência mesmo sem a poder conceptualizar e mais tarde compreendemos a sua emergência. obrigada, bom domingo para ti.

R: Olá R, é uma espécie de representação do ponto de fuga que corresponde à nossa recorrente necessidade de evasão. excelente domingo!

Apple: sim, poderoso, seja qual for a perspectiva! um domingo apetitoso!

marta: pois é teu também!