quarta-feira, 17 de novembro de 2010

entidade

qual é o perímetro da emoção danada? a configuração com papos de toranja do medo?, ou a curvilínea e alquebrada linha da espuma? a seguir. se seguirmos. tenho na mão o mundo, quando vejo em marte o sol fugir. ou o mundo. a fugir. as minhas imagens inspiro-as, na mesma proporção com que as expiro é dor e alegria, sabes, à vez, numa mesma verbal procura. então marte. lá inclinada sobre a sua imensa distância de coisa no ar e nós cá em baixo a olhar para cima, parando ao som de um violino aparecido exactamente no deslizar das nuvens. estaríamos tentados a chamar às alturas, céu, mas é tão só imensidão não imaginável. um deus que o fizesse não gastaria tanto espaço para lá colocar apenas lua e estrelas e uns tantos gases e sólidos girando, a música são as nossas vertentes fadas que a ouvem, mesmo se ela teima em não ser audível. disse-te. é grande o espaço. pequeno, muito pequeno o coração, e tu pensaste que era uma metáfora, mas não era, depois tentei fechar os olhos e ver para dentro e não fui capaz de ver o coração de tal modo tinha encolhido. atravessei a rua, essa defronte, e fiquei a ver-te de lá, e a rua, aquela defronte, pareceu-me, digo que o senti como e não minto, a galáxia, esse caminho ar e ar entre o meu nariz e marte.
imagem: Howard Schatz

8 comentários:

S disse...

já cá vim duas vezes mas faltam-me sempre palavras... já foram ditas.
:)

Cassandra disse...

Caraças... perfeito!

Laura disse...

bom texto, inspiração no auge. E a malta fica a pensar - às vezes os estados de alma são tortuosos e requintados ... obrigada pelo prazer da leitura
beijos

R. disse...

Dizes bem, via: inspiras imagens. Imagens longínquas e inalcançáveis como as estrelas, indizíveis como as profundezas deste azul e tangíveis como a rua defronte. E não, não são metáforas. São palavras que se fazem sentir.

jp disse...

Tão longe do que sabes de ti, pertíssimo do que nem imaginas. E nós a ver. Belo.

via disse...

ss: há muito, talvez o essencial, por dizer.

cassandra: ó miúda! tu atina-me!

Laura:é mesmo, um estado de alma.bjo

R: que bonito R, bolas!

jp: distância na maior proximidade, c'est ça.

Unknown disse...

Não igual ao mar para nos proporcionar largueza de horizontes.
A tua narrativa resolve bem essa indução e compromisso.
Belíssimo texto.
Bjs, via

R. disse...

:) Sentido.