segunda-feira, 15 de novembro de 2010

a iarte

tenho alguma dificuldade em entender certa arte contemporânea, como por exemplo as esculturas ou intervenções no espaço. Esta peça de que falo, um contentor com alguns espelhos, de escultura só tem a tridimensionalidade mas mantém viva aquela primária questão: é isto arte? Não poderá um contentor por acaso, um dos muitos anónimos contentores ali de Alcântara zona ribeira (a minha homenagem à preciosa expressão que li há pouco de uma criativa mulher do norte: pedras ribeiras) transmitir as mesmas sensações visuais e ter o mesmo efeito artístico, que aquele contentor/obra do José Pedro Croft? se fosse observado e visitado com a mesma atitude estética, com a qual visitámos o outro, quase igual? A realidade das coisas anónimas.os artefactos na sua ligação fortuita com a natureza, mar, vento, espuma e vértices, linhas, quando olhados esteticamente são também peças artísticas. o segredo está no olhar. até um contentor pode ser nau, pode ser épico e toda a arte é épica. nesse aspecto esta intervenção do artista é útil, porque nos apela a um certo modo de ver, um certo modo de ver contemplativo, desinteressado. Mas de um ponto de vista, o meu, a experiência ali das espinhas do vento e o momento único desse encontro entre elas e o objecto, foi, como dizer, brava, forte, é isso, épica.
A imagem é de uma outra obra do artista, ainda não estão disponíveis, na net, imagens da obra referida.

6 comentários:

Unknown disse...

Tanto quanto me lembro, o seu autor é canadiano.
O que ele fez foi aproveitar contentores contentores postos de lado pelo tráfego marítimo de navegação e transformá-los em casas imensamente coloridas e com todas as combinações possíveis que as suas volumetrias podem garantir.

Uma delícia.
Bjs

Cassandra disse...

Via: partilho dessa indefinição conceptual relativamente à arte. Sou algo retrógrada nesta matéria e antes de ser um criativo e um original, o artista é um talentoso, mais que qualquer outra coisa... tem talento.

Rui disse...

vi no outro dia um documentário interessante (também) sobre o assunto: My Kid Could Paint That. é sobre uma miúda de 4 anos que, há tempos causou sensação (nos estados unidos, especialmente) pelas suas pinturas. mas, se uma miúda consegue, o que diz sobre a arte (moderna)? o documentário é (também) sobre a influência do pai nas telas da filha.

via disse...

JPD: Não conheço mas gostava de conhecer.se te lembrares do nome, diz. este é um contentor nau, assim lhe chamo eu porque assim me pareceu. bjos

Cassandra: também me parece o talento,sente-se, assim como uma força em turbilhão, mesmo se a coisa é minimal.

Rui: sim, tentando experimentar os limites da arte, mas só poderíamos avaliá-la se numa exposição retirassemos o nome dos autores. então era apenas a obra, nada mais.

R. disse...

Lembra-me o conceito de 'ready-made' na obra de Duchamp, que, como poucos à época, demonstrou isso mesmo: que a arte pode ser quase tudo, dependendo da perspectiva.
A arte, não, a 'iarte' :)

Um abraço muito grato.

via disse...

R: A Arte,sábia a tua síntese.nada mais a acrescentar. abraço