domingo, 20 de fevereiro de 2011

Mergulhar na ansiedade, do mesmo modo que os panos brancos mergulham na tinta e tingem-se. os tipos que mergulham com tubo sustêm a respiração enquanto a luz do sol se esvai à medida que mergulham mais fundo e o peso da água é uma parede. mas de que serve escrever sobre isso?Os cadernos de literatura rejeitam a ansiedade, a poesia feminina nem tanto, não pode fugir-lhe. Escrever sobre qualquer coisa de íntimo terá um efeito qualquer, esse efeito depende talvez da vontade de quem escreve. eu quero dizer, preciso de dizer, que te encantem as minhas palavras, também, embora não surjam com guizos, desejariam tê-los. articulemos:a ansiedade é nossa e tudo o que é nosso é desejável, pela razão de ser da nossa natureza. se a ansiedade é natural então ela é desejável. se funcionássemos assim, então não havia ansiedade, porque esta surge na medida em que há um aquém e um além. além o rasto de um paraíso, aquém o mesmo, coisas, poucas. há mesmo qualquer coisa de errado connosco. devo torcer-me ou deixar-me ir? ficamos a meio dos dois, inclinados para os dois, boquiabertos e ligeiramente enraivecidos com os dois, será mesmo uma inaptidão para viver a liberdade ou o resultado de a viver, ou de a pensar? pensar cria uma erosão estranha, uma distância ao mundo exterior, traz para muito perto as sensações, não como são, mas esgotadas, exaustas, de se medirem sem resultado pela perspectiva de um estranho, o pensamento. intruso incontrolável. usurpador sofisticado.
Fotografia de Gerard Castello Lopes

2 comentários:

R. disse...

A pressa tem destas coisas: Escaparam-me este magnífico post, esta magnífica fotografia, estas palavras 'sonantes'. Não têm guizos, mas fazem eco.

A ansiedade, o pensamento, a natureza individual... parece-me que partilham de um cariz instrumental. Cada um, a seu modo, desempenha uma qualquer função. Por vezes óbvia, por vezes produtiva, por vezes desastrosa... mas nunca despicienda (digo eu).

Um abraço.

via disse...

R: apesar disso, dessa clarividência funcional é o mundo todo que fica por dizer. mais um abraço.