terça-feira, 14 de junho de 2011

entre dentes

Não temos necessariamente de nos realizar pelo trabalho, não tem que ser aquela paixão, não tem de ser, pela simples razão que paixão e trabalho são simétricos, como a mão direita e a esquerda,mas não são a mesma, disputam-se. Olho para os livros, a secretária e o computador com ela, as coisas arrumadas ou desarrumadas são bens de que facilmente me poria ao largo, sem olhar para trás, (talvez a excepção sejam alguns livros, o meu relógio, a minha caneta de tinta permanente especial, e não me lembro de mais agora que parei para pensar nisso) mas foi tudo ganho senhores com o suor, as noites e os dias do rosto, dos braços e do meu parco talento ao serviço desta função: ensinar. o meu trabalho, o meu ganha pão. seja qual for o valor da utilidade, o trabalho encaixa nela tão perfeitamente que nem são precisos esforços preliminares ou lubrificantes. sendo assim mesmo, tudo o que comi e bebi, mesmo a cama onde me deito, a camisa branca que me cobre o tronco e os óculos, também a gordurinha à roda da barriga, ainda é seu. mas seria eu diferente se nada disto existisse? e se sou também isto, não é verdade que os sítios para onde me evado sussurrando, as minhas paixões, são ainda formas originais, não produtos, que sem elas nada seria certamente porque a verdade é que continuo para dentro do céu da boca e disperso-me nas sinapses tontas do cérebro.não deveria voltar ao trabalho, esta ideia, bem, só de pensar nela dá-me tonturas.

5 comentários:

jp disse...

Nunca nos curaremos dessa nostalgia - aonde teríamos ido se não nos tivéssemos obrigado a ser também mulheres- trabalhadoras?

Há quem consiga ser mais livre... feliz ou infelizmente , nem todos.

Deixa lá , o que interessa é a alma não ser pequena, como está demonstrado no teu post.

R. disse...

De tontas, as tuas sinapses nada têm. As minhas, a esta hora e depois de uma longuíssima reunião, já nem sabem o que fazer. Resta-lhes apenas a capacidade de reagir, ainda que debilmente, a este teu post. É que é tão bom, que a reacção se requer inadiável. O trabalho e o prazer, nós e as alternativas... Numa coisa (entre outras) concordamos: és muito mais que o trabalho e estás para além dele; e ainda que ele te contamine os dias, não deixas de calcorrear caminhos alternativos.
Pessoalmente, mais do que imaginar o que teria sido, gosto de imaginar o que ainda pode ser :)

Abraço ensonado e, por isso mesmo, inimputável no que toca às baboseiras pr'aqui vertidas ;)

S disse...

o trabalho...eu vivo em constante luta com ele, tenho uma relação de amor/ódio!
mas a minha máquina, essa não colocaria de lado de forma alguma.
é uma extensão de mim própria, já o trabalho, esse, podia ir às urtigas!

(bela foto, by the way!)
:)

via disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
via disse...

jp: essa nostalgia, como dizes, entranhou-se, não há como fugir-lhe e parabéns, again.

R: a esssa hora a que escreves é quando nos damos ao luxo de não ter grandes filtros e apanhar o que naquele momento nos apetece. tens de escrever mais vezes assim tardiamente. abraço

ss: a foto não é minha é da cindy sherman