segunda-feira, 6 de junho de 2011

noite de teatro

O Teatro de marionetas tem estatuto menor dentro das artes do espectáculo, falta-lhe a intelectualidade forte do texto que faz do Teatro uma Arte maior desde os idos gregos das tragédias, passando pelo teatro europeu dos grandes autores. A nossa tradição assenta no texto dramático, sem dúvida, e isso fala um pouco do modo como somos, nós europeus, dados ao dizer, (a recente mostra deste dizer é o discurso do mestre laranja, vulgo Passos Coelho, contrariando a verve política do discurso, vem de voz grave acentuar a pobreza do dito na arte política o que denota, visto que foi o eleito, um certo cansaço da maralha em relação à palavra, sinal do seu demasiado e malbaratado uso) mas continuando (vou ali chorar pro canto pra não pensar nas eleições), no sábado de reflexão fui-me a ver uma companhia alemã de marionetas: A THALIAS KOMPAGNONS. Conheço o Teatro alemão e amo-o, amo o seu rigor, a sua criatividade, o seu gosto alquímico e telúrico que rasga a fundo esta tradição discursiva do Teatro. Neste caso, propõe-se uma arte de fazer coisas, pequenas, grandes, simples e complicadas, ali, em cima do palco, dar a ver, como do próprio espectáculo se tratasse, a transição (isso é que é alquimia) do fazer ao acontecer, produzindo por gestos vulgares, um manancial de formas surpreendentes. Mais uma vez as expectativas (altas) não foram traídas. Subi ao segundo balcão, do Teatro D. Maria II para me maravilhar com o candelabro gigantesco da sala e o roçagar de cochichos e passos abafados que antecede o começo dos espectáculos. A THALIAS trazia na manga nada mais que "A flauta mágica", a história dos amores de Papagueno, ave alvoraçada, e do seu amo o príncipe Tamino. A música era do Mozart, tocada ao vivo e cantada a várias vozes por um só cantor. O processo engenhoso: bonecos filmados em vários cenários artesanais, construídos e manipulados para dar efeitos visuais muito além do que prometiam quando olhados a nu, em cima da banqueta de madeira. A Arte, desde as mãos até à concepção, o trabalho das marionetas e da música, produzia-se a partir da inércia dos objectos até aos voos da imaginação que os usava. Pura transformação. Não se pode exigir mais ao Teatro, esta é a sua essência.

5 comentários:

Prof_helena disse...

Maldito gráfico de humores...Personalidade miseráve!

via disse...

Prof helena: tu não me fales em gráficos que me lembro de grelhas...não as do peixe, bem entendido!

jp disse...

Não vá chorar para o canto, vá cantar para não chorar.

E vê lá se descobres um hino bem guerreiro, que agora é que vai doer a sério.

R. disse...

Das mãos que concebem a arte às mãos que lhe dão vida, não deixa de nos surpreender a beleza do faz-de-conta, ainda que a saibamos enncenada. Esse é o verdadeiro poder da representação: o de nos fazer experienciar o irreal em directa contradição com o cepticismo que a recionalidade nos dita.

via disse...

jp: já chorei, agora é esperar pra ver. tu tem dó!!

R: laborioso, e indesmentível esse teu comentário, continuo sem poder comentar o teu blog. poça que é demais!