segunda-feira, 18 de maio de 2009

então os Jerónimos queixam-se de não viajar? de estar ali só pedra no mesmo lugar? e a acácia queixa-se do seu insucesso ou de estar sozinha? e nós que não somos jerónimos queixamo-nos de andar numa correria a tentar segurar com mão forte a corda para que ela não se quebre. quem somos nós enfim? viver sem queixas, sem o mal de vivre, parece coisa impossível e vai daí andamos que nem doidos à procura do verdadeiro nome, do nome para o vazio, não tem nome o vazio, o nome vem com a coisas viventes, a vida por si, só, em si ,é vazio. Sei lá da vida! da vida que quero, não sei, é só o cheiro a livros velhos, uma forma de imitar, um olhar carinhoso, aquele acordeão à beira do degrau que dava para um sonho à beira de principiar, deixemos os nomes. por aí não chegamos a lado nenhum, reguemos as plantas e tenhamos o lençol lavado, o corpo disponível e o desejo intacto como da primeira vez que fomos amantes. mantenhamos as coisas aí, na sua singularidade, e deixemos as palavras grandes que nomeiam no seu aparato barulhento e distraído. concentremo-nos no tom, no riso, no buraco na meia, nas sardinheiras que florescem e na água que ferve ao lume.

coloco aqui o mar para lembrar que não fui à feira do livro, nem fiz aquilo que prometi, porque novamente e sem fim atirei às ondas o corpo e com elas me vou.

3 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Também não fui à Feira do Livro. E nem atirei o corpo ao mar. O que teria sido óptimo :)

Atirei-me a outras tarefas simples, que a vida não é só literatura :)

É sempre um prazer ler-te...

via disse...

ana paula: é verdade, não é mesmo! e sinto-lhe a falta! Boa semana!

Rui disse...

Lembrei-me de uma coisa que escrevi e que dorme entre as ondas do mar que existem dentro das gavetas. Uma rapariga que se deixa apenas ver brevemente, a estender lençóis à janela. Um rapaz (está bem de ver) que mora em frente, entretém-se a adivinhar-lhe os humores pelo estampado dos tecidos. O último que estende, se bem me lembro, é um lençol com papoilas.