quarta-feira, 17 de março de 2010

romaria

no carro, entre carros, oiço os primeiros acordes, num dia que seria um sonho mau se não fosse apenas realidade pura e dura, sem a habitual poesia que como o coentro na açorda vem salpicar os pés e sobe mansa pelas veias, soletro Caipira, "Sou caipira, pira, pora, nossa, senhora de aparecida, ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida", um toque de seda, um gole e outro, o sol, sacudir a cabeça, "como eu não sei rezar, só queria mostrar, meu olhar, meu olhar, meu olhar" ao ouvir esta música, (ou foi depois de beber as duas caipirinhas? não sei,mas acredito em coincidências) a meio do charco empapado da minha angústia de não vislumbrar solução para a peça, a peça, a peça, vejo já as caravelas por aí fora, a culpar-me sem remédio, tive uma ideia, e se fosse um mendigo a sonhar? um mendigo a sonhar com o vasco da Gama e a vê-lo no seu sonho? Claro, a ideia resulta, é um pouco como nos sentimos todos, ou como gostamos de nos sentir, uns coitados que já foram reis.curioso ter encontrado uma solução tão lusitana entre tanta euforia brasileira.

Obrigada Elis!

6 comentários:

R. disse...

Pois é. As melhores ideias surgem, por vezes, da combinação mais inusitada. Se calhar, por isso mesmo. A criatividade é "filha" da divergência. Continuação de uma semana "inspirada" :)

via disse...

R: as associações que fazemos automaticamente, ao arrepio da vontade são cada vez mais surpreendentes.será? filha de contrastes, uma espécie de cozinhado cujo mecanismo nos escapará sempre. boa semana, hedonista de preferência ou epicurista, mas não muito estóica.

R. disse...

Obrigada e igualmente, Via :) Como dizia Etty Hillesum, num dos seus diários, quanto mais depressa aceitarmos que há momentos de falta de criatividade, mais depressa esses momentos passarão :) (Tenho de escrever sobre ela um destes dias. Entre outras coisas, também apreciava Rilke)

via disse...

R: é o caso, é o caso, mas salva in extremis por uma visão crua que da música veio, não sei por que mecanismo de encantamento.Quanto à Etty Hillesum (nome difícil) parece-me uma boa opção para descortinar problemas psicológicos intrincados naquele tom desprendido quase diria ocasional que tem de dizer as coisas mais desesperantes. obrigada pela inspiração R.

mixtu disse...

romaria----

sou caipira...

eu sei rezar... se tiver necessidade :)



sai duas caipirinhas

abrazo serrano

via disse...

mixtu:melhor para ti, tens sempre uma alternativa segura. abraço da terra das gaivotas e dos andaimes.