sexta-feira, 22 de outubro de 2010

divagações a propósito da Arte

estava a pensar no que será a Boa Literatura, o que serão Bons Escritores. a questão da apreciação da Arte, em geral, passa por uma definição mais ou menos aceite de Arte, tal coisa, contudo, não existe. portanto se não poderemos partir de uma definição universal de Arte, não poderemos ter um padrão comparativo através do qual possamos julgar se tal livro é Arte. Mas será que ser Arte e ser Boa Arte é o mesmo? Arte será um substantivo ou um adjectivo, será o nome dado a certos objectos, com determinadas características, ou será uma qualificação desses objectos? Exemplo. O urinol de Deschamps. é um urinol. mas é Arte porque sendo um urinol não é isso que o define. O que o define é ser um objecto artístico. Uma obra de Lobo Antunes. um livro, é Arte por ser um livro de literatura, convencionalmente considerada uma das Artes. mas será Arte se dentro da literatura for má literatura? Haverá tal coisa de "Más obras de Arte"? Como se o termo Arte encerrasse já uma qualificação que confere ao objecto um certo estatuto, assim, nesta perspectiva o objecto seria qualificado de Arte, não por ser de literatura mas por ser único, autêntico, bom. portanto nem toda a literatura seria Arte, mas somente aquela cuja apreciação, de um grupo de críticos ou do público em geral, assim o determinasse. Isto é Arte. Seria um juízo de valor. Não teria um carácter objectivo, logo, não haveria unanimidade. Um livro do Lobo Antunes poderá ser Arte para alguns, para outros não, porque não o apreciam. Todavia esta conclusão não nos satisfaz, vemos claramente que há certas características objectivas que separam por exemplo uma peça musical de Beethoven, dos discos do Tony Carreira. Que mesmo alguém apreciando muito Tony Carreira e não apreciando Beethoven, não poderá afirmar com legitimidade, ser o primeiro Arte e o segundo não, pela simples razão de que há unanimidade acerca das peças de Beethoven. Aqui estas peças superam os juízos de valor. A 9ªa Sinfonia é Arte. É um juízo de facto. Não merece controvérsia. Poderíamos então conceptualizar as qualidades da 9ª Sinfonia e teríamos um definição universal de Arte. Só que as qualidades que fazem com que determinado objecto seja Arte não são as mesmas de outro. Mas se a questão está parcialmnete resolvida para certas obras, porque não está para todas? Se considerarmos ainda que hoje a Arte que gera unanimidade é má, e que a boa Arte é provocadora do status e gera anti-corpos, então a confusão ainda é maior.
Há o factor tempo aqui a fazer o papel do juíz. Submeta-se a obra ao tempo. Aqui ninguém é juíz em casa alheia. Nem o artista pode saber se vai sobreviver, nem nós, público, excepção feita a certos Artistas como o Lobo Antunes que sabem. Ponto final. Como sabem? Porque não produzem livros, mas Arte, neles, em vida já foi reconhecido o poder mediúnico dado a deuses e semi-deuses e aos génios literários. Ora aqui é que me parece estar o nó, um livro é um objecto cujo desígnio não é ser Arte, cujo desígnio é outro, contar uma história, ser testemunho de um acontecimento, expressar um sentimento etc. Esse é o propósito, por isso é que certas obras nos soam mal, porque nelas vemos o artista a tentar fazer Arte, vemos a inutilidade de toda aquela formalização que nos maça, uma espécie de carrocel que não quer chegar a lado algum, o artista encantado com a sua genialidade, com o toque divino. O Lobo Antunes e o do Livro (a pretensão é espantosa) são assim. O Saramago não era assim, tinha a mestria do artífice na relização da tarefa de artífice, mero homem fazedor, não artista, o Techiné, disse que gostava de ter encomendas e o Billy Wilder, o Ford diziam limitar-se a fazer fitas para entreter.Mas alguns acham-se tocados do poder divino de dar de beber a quem tem sede e adivinhar o futuro.
A propósito: Os textos desta senhora aqui, não têm o desígnio de ser Arte, mas a qualidade que têm eleva-os à categoria)

3 comentários:

joana padrel disse...

Não me parece estar a unanimidade
perto da arte.Se assim fosse as criações do Tony estariam muito mais perto da porta de qualquer museu. Não é aí que a arte se sacraliza e deixa de o ser?

Aqui fica mais esta provocação , quiçá gratuita, a fazer pendant ( ?) , com a tua.

Cassandra disse...

E os pedregulhos do Cutileiro no Parque Eduardo VII??? Arte ou Geologia pós-moderna? Beijinhos.

via disse...

Joana padrel: mas há certas obras que têm a unanimidade, não é o caso do tony, e nem a unanimidade nem a controvérsia são critérios para avaliar a arte. a discussão não tem fim. grata pela amabilidade do concurso da sua voz.

cassandra: eheheh eu diria que o seu desígnio é ser Arte agora se é ou não, má arte, certamente.bjos