terça-feira, 12 de outubro de 2010

do prazer

Tenho muitas vezes um problema: tentar conciliar o que sou de uma forma natural com o que penso. há certamente um instinto natural para o prazer e há por outro lado uma educação e um chamamento para não lhe ceder e a culpa se o fizermos. no meio-termo, na recusa do excesso do prazer, parece residir a virtude. procurá-lo na justa medida embora ninguém saiba em que consiste "a justa medida". A virtude surge como o meio de ultrapassar racionalmente a carência de prazer, porque a carência é dor e esta infelicidade. Haverá um certo prazer na virtude.Maybe. Mas não será maior prazer desviar-se da virtude? Sempre me fizeram impressão aqueles que dizem, e são muitos, que o trabalho lhes dá prazer e que muito tempo sem nada fazer perturba e entedia. fico confundida. prazer e trabalho parecem-me pólos belicosos porque o trabalho é exactamente o que fazemos para poder ter alguns momentos de prazer. Por exemplo: trabalho para poder ir ao cinema, mergulhar nas água mornas de uma praia, conhecer sítios que nunca vi. Descubro a força do capital nesta enumeração. Estar na conversa com amigos, ler livros, pensar, o prazer não tem de ser pago. não pode. mas cada vez mais há uma certa forma de o vender, como se vende roupa. A questão é epicurista: liberdade , amigos, gente como nós. o problema é que no nosso percurso individualista não temos gente como nós e desviamos a necessidade de ter amigos para a necessidade de estar ocupado. preferimos investir no trabalho a investir nos amigos. Depois há a liberdade que o trabalho não dá.chocalha-nos um guizo de diabrete quando nela pensamos, uma posição horizontal e um vernáculo na língua.

5 comentários:

R. disse...

Curiosamente, via, fico a pensar na racionalidade do prazer, emocionalmente fruido mas intelectualmente determinado. E os efeitos e variações são infindáveis, como se nota pelos teus, bem elucidativos, exemplos!

Rosa dos Ventos disse...

"Ai que prazer não cumprir o dever..." ! :-))

Abraço

CCF disse...

São duas coisas que se alimentam mutuamente e ter só uma delas era certamente uma chatice. Embora alguns trabalhos sejam geradores de muito maior prazer do que outros.
~CC~

R. disse...

E, de facto, o meio-termo parece mesmo ser ideal, ainda que se insinue sensaborão?... A ausência de qualquer prazer é terreno fértil para o desequilíbrio, mas a busca insesante também. Se calhar a vida por vezes é muito sábia :)

via disse...

R: Essa do intelectualmente determinado é, no mínimo, capaz de nos inspirar para pensar nas consequências, se é intelectualmente determinado, é também pensado ou conceptualizado e, no entanto quando o tentamos prender ao conceito ele foge.Claro que a dose não deve exceder-se senão transborda nem retraír-se senão, como dizes, a vida desequilibra-se, não sei se a vida é sábia, mas acredito em simetrias.


Rosa dos ventos: Claro, também me lembrei desse, genial.abraço

CCF: esses trabalhos estão arredados momentaneamente do trabalho, e às vezes não momentaneamente.