sexta-feira, 8 de outubro de 2010

prefiro o Joseph ao Philip

Os escritores vivos precisam comer, comem da escrita, são profissionais do ofício.Os direitos de autor de um escritor vivo e famoso são uma barbaridade, os direitos dos escritores mortos há anos, nem por isso, daí as editoras rentabilizarem o investimento feito com a promoção. o marketing. Temos também os prémios e o facto de morrerem novos, como o Bolano e o Larsson. Mas veja-se por exemplo, Roth, Philip Roth. Entrevistas, fotos, reportagens, opiniões, críticas. os "gajos" são como as novelas, a toda a hora,em todo o lado, familiares, mais até que primos, gente de braço dado, grandes escritores acessíveis. É o isco. Neste momento o protagonista é o José Luís Peixoto, não há mais nenhum como ele, confesso, não aguento três linhas daquela escrita a"olhar para o espelho" e a fazer malabarismos. Em cada linha leio:"olhem com'eu sou bom escritor!!" Sorry dizer-te: "Não és, garanto-te que não, mas tens mulher e filhos e quem vive só do ofício, à conta de ter boa pinta, tem de vender senão morre à fome!" Agradece ao teu editor!!O marketing livreiro funciona, pena que seja com os objectos errados.


Porque não podemos comprar o Joseph em vez do Philip? O primeiro nasce 50 anos antes, também judeu, naquele caldo Austro-húngaro da 1ª guerra mundial, jornalista, pobre e bêbado mas fulgurante, não se compreende a dificuldade para comprar um livro seu. "A Marcha de Radetzky", a sua obra-prima, não existe, pura e simplesmente (foi editado no Brasil e está esgotado). Podemos encontrar na Assírio e Alvim " A Lenda do Santo Bebedor" e é de ler. Ficamos com um "piqueno" excerto do Hotel Savoy:


"sou um egoísta", disse eu, "um verdadeiro egoísta". "Isso é uma palavra culta", repreendeu-me Zvonimir. "Todas as palavras cultas são uma vergonha. Em linguagem simples tu não podias dizer um horror desses." p.62

temos na fotografia o Joseph a apanhar o comboio, algures nos anos 30

9 comentários:

Cassandra disse...

É a velha diferença entre quem é um extraordinário contador de histórias e os outros, que embelezam momentos fragmentados com o único objectivo de surpreender o leitor. Os verdadeiros esritores don't give a shit about that. They are just worried about telling a good story. Eu consigo sempre imaginar o Peixoto, todo furadinho com os seus anzóis a plantar figuras de estilo ao desbarato. Olha aqui uma metáfora... vinha mesmo a calhar.

Cassandra disse...

Ah, é verdade, já me esquecia. O Roth não é mau mas não há pachorra para tanto sexo desesperado. Quando a virilidade se for, o que lhe acontece à escrita? Withers?

R. disse...

Como tudo, nos dias de hoje, concordo que também a literatura vive do marketing, e as editoras que não seguem a 'onda' não sobrevivem. Ainda assim, é certo que as que vendem muito, teriam, por isso mesmo, o dever moral de promover literatura de primeira qualidade; investir uma pequena parte do que lucram com a literatura "trash" na divulgação dos escritores e obras intemporais. Eles merecê-lo-iam e o público também.

via disse...

Cassandra: Na narrativa também sou da tua opinião, os romances são boas histórias bem contadas.bem contadas quer dizer que as palavras devem captar a atenção e servirem a história e não o contrário. já da poesia ou prosa poética diria que não.para o Roth o apelido:"um dos últimos machos narcisistas" assenta-lhe bem.

R: Algumas editoras como a Presença que traduziu e editou Dostoievski e a Relógio d'água ou a Assírio e Alvim fazem esse serviço público. mas há outras, que é mesmo só a coisa moderna e se tiver escandaleira melhor.bom fim-de-semana.

R. disse...

Sem dúvida. É pena que a tendência não se generalize. Mas é sempre melhor pouco do que nada :) Bom fim-de-semana para ti também.

CCF disse...

Gosto de José Luís Peixoto, comecei a ler assim que começou a publicar, e "nenhum olhar" é um belo livro. Depois disso entrou no labirinto dos livros que têm que ser escritos depois de um sucesso, de um prémio. È capaz de no mesmo livro ter páginas brilhantes e outras dificeis e mesmo frases que se aproximam do vazio. Mas gosto dele, não tem nada de "comercial" como pessoa e escritor, e de uma generosidade, de uma entrega...se vai a tudo e corre mundo, é por esse desejo de se encontar com os outros. Roth, aí está um escritor que não me diz nada, não gosto da forma como escreve, e as histórias estão cheias de mulheres que não passam de objectos sexuais dos homens, mesmo quando ele pretende dar-lhes consistência...não consegue.
Quanto ao Joseph, fiquei curiosa ;)
~CC~

Unknown disse...

Destes três escritores é a seguinte a min ha posição:

- Roth: acho-o excepcional. Finalmente a Dom Quixote reeditou a «Pastoral Americana».
- Joseph: não li nada nem sabia da sua obra. Prometo procurar as obras que referes;
- Jose Luis Peixoto: li dois lçivros dele que gostei e estou muito curioso quanto ao «Livro»
- Bolano: Divinal
- Larsson: li os dois primeiros livros da Trilogia Millennium e achei espantoso. Nunca tinha lido nada que desmistificasse tão eloquentemente o mito da tolerância da sociedade sueca.

Parece-me que acharás concordância o efeito malévolo para os leitores a conjugação entre o peso do autor, da obra, do marketing e da comercialização da arte -- O Público lê o que puder e gostando ou não aplaude o desilude-se.
São pólos excessivos!

O que eu acho deplorável é sujeitar uma obra a três meses para singrar ou não.
Acho também que a politica de estabelecimento do preço de venda é excessivamente alto.

Boas leituras.

via disse...

CCF:Quanto ao Peixoto, não gosto da sua escrita em prosa, acho-a piegas e forçada, não me convence a sua melancolia, não a sinto como autêntica.Concordo com o que dizes do Roth. O Joseph é um escritor duro mas diz coisas novas.

JPD: se leres o comentário que fiz ao comentário da cassandra terás a minha resposta ao que eu penso do Roth.estamos em oposição total. Do peixoto gostei da poesia.Do Larsson gosto mas poderia ser mais sucinto e é difícil seguir a história, há ainda inúmeras repetições que são excusadas. o bolano só li a valsa para detectives e gostei de algumas passagens mas estou agora a ler a conversa na catedral e é muito melhor.boas leituras!

Unknown disse...

Desta série mais recente da Revista LER, conduzida pelo Francisco Jose Viegas tenho comprado e lido com imenso prazer as edições.

Por essa razão congratular-me com o facto de andar a LER como tu o fazes e, tanto quanto parece, com imenso prazer.
Adiante.

O Roth que falei, como compreendeste era o americano, não do Joseph.
Reitero o interesse na obra dele.

Não vejo qualquer problema nos interesses opostos.
O confronto de ideias e comentários é salutar.

Bjs