terça-feira, 13 de janeiro de 2009

diários

Será que nos devemos importar com o que fica depois de nós? deveremos preocupar-nos com a eternidade? a Yourcenar escreveu para isso, para deixar a sua vida registada, chamou-lhe "Quoi l'éternité" e muitos escritores escreveram sobre a história das suas vidas, de um modo cirúrgico e testamental, sem o artifício da ficção. A imensa e frenética produção da ficção hoje é para mim a anunciada euforia antes da morte, o canto do cisne. Creio que a literatura de ficção me vai sobreviver pouco tempo, posição mais ridícula, dirão, medir o colossal pelo minúsculo umbigo de uma vida, mas que querem, acredito nisso, a justificação? não há mais histórias para contar, já foram todas contadas de 1000 modos diferentes, embora as continuemos a ler, já não têm muito para nos empolgar, os clássicos já fizeram tudo, há talvez a aberta possibilidade de nos sermos de outro modo, por alguns dias, mas não é esse o propósito da grande literatura, a arte pode servir outros propósitos que não sejam o mero entretenimento de gente enfastiada. Então imagino que cada um de nós, no seu anonimato mais lúgubre ou luminoso,tem os seus momentos de glória e os seus momentos de nada, ou mais qualquer coisa sem glória, esses diários, poderiam ser a literatura do futuro, na sua insignificância, comparados com os grandes acontecimentos da vida e da morte que tão sinteticamente são os grandes temas da literatura, poderiam ser a forma democrática de cada um aceder à sua parcela de eternidade a que tem, sem dúvida, direito e, ao mesmo tempo, desdobrar a escrita infinitamente, tornando-a valiosa pelo preço da sua autenticidade.

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