terça-feira, 31 de março de 2009

O teatro tem de falar a sua linguagem. não são as palavras, nem a música, nem os actores, nem os ritmos, mas uma outra linguagem feita dos pedaços juntos, misturados ou afastados, obedecendo a uma lei misteriosa e completamente inacessível à razão. linguagem da vida mas numa imitação da vida, retirando-lhe o sumo, condensando-a em ecos familiares que foram perdurando no nosso inconsciente e de repente irrompem quando convocados. O teatro é isso, o reencontro de qualquer coisa que andava perdido, como um irmão uma única vez visto e que alguns anos depois reencontramos. Penso que toda a arte é um reencontro de algo que está em nós perdido e que se conjuga em virtude de um movimento, um brilho, um compasso ou um tom. Tudo isto para falar de pedrinhas atiradas a uma janela. Em si pouco é, todos nós o fazemos, mas para quem as ouve apenas, um som, elas terão de obedecer a um mecanismo misterioso, que a sensibilidade poderá identificar, aquele som, só aquele, não outro semelhante, e aquele ritmo, só aquele, não outro, ou um qualquer, desencadeiam aquela atmosfera, aquele riso ou satisfação de ouvir algo que reconhecemos e vem de lá detrás das dobras de uma experiência antiga, única, das emoções invocadas por uma pedrinha a bater na janela.

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