quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

comunidade

falávamos de nós, vivendo sozinhos. Pensámos arranjar uma casa grande para viver em comunidade. A ideia interessou, um jardim comum, excelente, uma sala comum, excelente, cada um com o seu quarto, excelente, e por aí fora em escrutínio às partes de casa, localização e outras terapias de futuro, mas eis de súbito este caudal de sintonias imaginadas convergir para um lugar onde, não sei bem porquê, a realidade entra pela porta grande: a casa de banho, os lavabos, a toilette, o Wc? comum? Não!
2 para quatro nã! 1 para quatro, nem pensar! as opiniões passaram de convergentes a divergentes, tudo por causa de uma casa e banho, (bem se faz o pudor, com paus de dois bicos). realizo então que a higiene e outras funções "poéticas" são a parte menos comum de cada um e, no entanto, é exactamente o contrário por natureza, mas a questão é toda mental...quero dizer, a intimidade, pensam as psiques, é o corpo e suas manias, e estas não podem ser partilhadas. Como se as casas de banho tivessem um orifício onde cada vez que alguém entrasse, uma chusma assistisse pelo ralo! A Vigilância está dentro de nós, o medo de fora é um reflexo da vergonha dos nossos pensamentos. não cheguei a dizer, mas acho que pensei, hoje deu-me para a psicologia, sorry, para a próxima falo do frio.

13 comentários:

Apple disse...

Gostei muito da reflexão, mais que do frio ;)
"A Vigilância está dentro de nós, o medo de fora é um reflexo da vergonha dos nossos pensamentos",concordo e, curiosamente, vem no sentido do livro que ando agora a ler (que confesso, ainda não percebi bem se gosto ou não...) e que aponta este caminho. Os (pré)juizos, limitações, culpas... são processos que reflectem o nosso intimo e não tanto a influência do que está à nossa volta...

Unknown disse...

Viver em comunidade requer uma negociação demorada e uma paciência inexcedível...

Viver em comunidade exige um poder negocial e uma disciplina que excede a maioria das utopias dos comunitários...

Viver em conumidade pode significar ser confrontado com as mais idiotas reacções e o mais inimaginaveis egoismos...

Mas, como viver em comunidade, supera o flagelo da solidão, a alternativa vai sendo reduzir a comunidade ao par...

Volta a falar e a escrever de mais temas... Deixa o frio... Aquecer!

Saudações

R. disse...

Isso. "O medo de fora é um reflexo dos nossos pensamentos", os pensamentos reflectem as experiências que tivemos "lá fora" e assim sucessivamente... A "comunidade" como causa e consequência em simultâneo.

CCF disse...

Sim, o corpo é o território mais intímo, por isso percebo as razões da discórdia. Também teria (tenho) dificuldades.
~CC~

Cassandra disse...

Quanto mais tempo estamos sós, mais queremos uma casa-de-banho só para nós. A partilha é uma arte que quando esquecida se torna penosa. Gosto sempre do que escreves.
Não te esqueças amanhã.
Beijo.

mixtu disse...

a casa de banho...
curioso que toda a minha vida andei à porrada por ela, com irmãos, depois esposa...
agora é sóminha
yayayaya
o frio... queda para a proxima,
abrazo serrano en paris

via disse...

Apple: muitas vezes, não sempre, o que pensamos que os outros vão pensar é o que nós pensamos dessa acção mas não queremos aceitar porque é ridículo ou preconceituoso, como se houvesse um pensamento racional e consciente e um outro, que chamamos o dos outros mas que é o nosso mais íntimo, o que temos vergonha de admitir. mas não é uma generalização tão pouco uma lei, é uma contactação para muitos casos de preconceito, ou medo.

JPD: é verdade, e é tanto mais verdade quanto nos habituamos a viver sozinhos. não é um flagelo a solidão,depende do modo como a vivemos, ela por si nada quer dizer. de qualquer modo, a comunidade a dois parece-me bem, mas depende dos casos e da experiência de vida.

R: é mesmo, causa e consequência, o fora e o dentro são difíceis de discernir, depende da perspectiva onde nos colocamos. assim poderemos afirmar que esses medos já são uma consequência da vigilância da educação sobre os instintos primitivos e também a causa pela qual nos recusamos a expôr a intimidade (ou o que julgamos ser a intimidade).

CCF: compreendo, é um medo ou pudor muito sedimentado mas sem grandes razões que o sustentem.

Cassandra: pois é, difícil, penosa, ou não, não sei qual o mais forte desejo se mudar se permanecer igual, vamos ver.

mixtu:somos dois, o usufruto sem interrupções era dia de festa, em geral havia sempre alguém com mais pressa que nós.
Abraço daqui até Paris!

via disse...

errata: constatação e não contactação, e nem sempre em vez de não sempre. lapsos de língua ou língua de trapos.

R. disse...

Gosto muito dessa expressão ("língua de trapos") e nunca me lembro de a usar! Quem sabe, se agora isso muda...

via disse...

R: espera pela ocasião, não faltarão ocasiões para a aplicares, temos frequentemente momentos brilhantes como este que aqui viste!

Rui disse...

O medo(?) nem será tanto o da entrada imprevista de alguém na casa de banho, nem o do orifício da fechadura - tudo facilmente resolvível. Mas talvez, e apenas (mas um grande apenas), o de imaginar que outros possam naquele espaço fazer coisas que somos capazes de imaginar mas não de admitir.

via disse...

Rui:mas que poderá alguém fazer na casa de banho que nós não tenhamos feito e que uma boa lavagem não apague?

Rui disse...

Nada, claro. Mas há sempre aquela tendência para nos enganarmos a nós próprios.