domingo, 29 de março de 2009


às vezes o coração quer e não tem o que quer. e nada em nós compreende porquê. compreendemos que é por condição que assim acontece mas não aceitamos, debatemo-nos. esta luta contra um fantasma poderia ser entendida como uma luta pelo absoluto, pela conformidade perfeita entre desejo e satisfação infinita, um desejo de completude e, se assim fosse, o sofrimento causado só nos engrandeceria, mas quando estamos tristes, ficamos pequenos e inúteis como trapos esburacados e recuamos para o nicho microscópico do eu onde só há sobressaltos e mais mágoas, uma solidão cósmica e um sapo que fuma cachimbo até rebentar. Encosto a cabeça contra o muro frio da casa, procuro uma sensação física forte que me roube por momentos a angústia. A águia com suas garras de sangue sobrevoa.

4 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Mas resiste! :)

A tua descrição é tão forte que marca impressões. Senti tudo, conheço a sensação, terrível. Mas ao imaginar "um sapo a fumar cachimbo até rebentar"... senti um baque! É uma imagem magnífica! E um alívio vê-la reflectida. É uma verdadeira catarse! :)

Um bj

via disse...

ana paula: resiste,faz parte de si, inseparável parte que amiúde vem à superfície. escrever dá forma a estes arabescos desconjuntados que vamos sendo, sem piedade, libertando.Bjo para ti e boa semana de férias (semi férias)

Cassandra disse...

escreves demasiado bem para deixares os poemas na gaveta. Às vezes, dançar até não sentires os membros ajuda a afastar as sombras da rapina. Alinhas?

via disse...

cassandra: verdadinha, espanta mesmo,,,e brigada miga.